São Paulo, 11/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Estudantes jogaram uma galinha preta viva na tribuna onde discursava a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, no ato comemorativo do centenário do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Estavam presentes, entre outras autoridades, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, representando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A prefeita ficou visivelmente constrangida.
A ave arremessada pelo estudante de direito Ernest Hellmuth, de 18 anos, não atingiu a prefeita que, momentos antes, havia sido vaiada por um grupo de estudantes . Exibindo cédulas de R$ 1,00 e R$ 10,00, os manifestantes gritavam "Martaxa", condenando a política de taxação de serviços municipais .
Marta Suplicy reagiu deixando de lado o texto preparado para a solenidade e de improviso desafiou o estudante a se apresentar. "Aqui é um lugar de democracia, em vez de jogar galinha, vem falar porque você está bravo". Numa aparição repentina, Hellmuth limitou-se a gritar "partido feudal".
Aluno do primeiro ano do curso de Direito, o estudante disse que o gesto serviu para marcar a tradição de protesto do centro acadêmico. Ele justificou que a atual facção "O Ruptura", no comando do XI de Agosto, é ligado fortemente ao Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo ele, um dos seus objetivos como membro do grupo de oposição, o "Partido Feudal", é desvincular a política acadêmica de influência do grupo político. "Talvez 'O Ruptura' receba uma certa quantidade de verba de partidos externos da Faculdade, de políticos nacionais, e isto influencia. Só queremos mostrar que isto é errado", assinalou. Ele negou fazer parte de um elo da militância jovem do PSDB, conforme insinuou a prefeita ao sair do local.
Dois grupos estarão se enfrentando nas eleições de outubro próximo.
"O nosso partido tem como mascote uma galinha branca. Resolvemos jogar uma preta. Aliás, tínhamos mais que demos a mendigos porque seria exagero jogar mais", explicou o estudante.
O manifestante afirmou que está insatisfeito com a administração da prefeita "porque ela cria taxas e ainda não mostrou muitos serviços". Em sua avaliação, o PT também tem atos questionáveis. "Não sei se eles têm o direito de nos questionar", afirmou.
O ministro Thomaz Bastos condenou a ação do estudante, considerando o ato como constrangedor. "Seria como se um homem estivesse falando e jogassem contra nele um veado". Para o ministro, houve a vontade de ferir, de agredir e "passou um pouco do limite". Em sua avaliação, as vaias fazem parte do direito de ver o outro lado das coisas, mas a agressão foi exagerada.
Como ex-membro do XI de Agosto, o ministro lembrou seus tempos de estudante. Ele contou que em 1954, quando militava, havia um clima de liberdade um pouco parecido com o de hoje. "Nós lutávamos contra o presidente Getúlio Vargas e estávamos preparando uma caravana para ir ao Rio pedir a renúncia dele quando chegou a notícia que o presidente tinha se matado. Aí se criou uma mistura de tragédia e dúvidas a respeito do erro ou acerto da nossa decisão".
O ministro disse que essa escola (do Largo de São Francisco) viveu todos os momentos importantes da história do Brasil e que ele espera que nos próximos cem anos continue vivendo também com a mesma intensidade .