Brasília, 8/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Um filme vai contar os detalhes de um episódio ainda não esclarecido suficientemente na história do Brasil. Depois de 20 anos de pesquisa, o cineasta Ronaldo Duque reuniu material para finalizar "Conspiração do silêncio", que relata a história da guerrilha do Araguaia. "O filme mostrará uma história que o Brasil desconhece e que precisa conhecer", afirmou o cineasta. O lançamento será feito, em circuito nacional, em abril do próximo ano.
"Conspiração do Silêncio" vai relatar histórias semelhantes à de Vitória Grabois. Militante do grupo "Tortura Nunca Mais" do Rio de Janeiro, Vitória perdeu o pai, o marido e um irmão na guerrilha do Araguaia. A militante lembra que seu caso não é diferente da tragédia que atingiu as famílias dos 61 mortos na guerrilha.
Grabois explica que existem, pelo menos, 400 desaparecidos e mortos políticos no Brasil. Ela diz que é preciso que o governo brasileiro entregue às famílias os corpos dessas vítimas. "Nós sabemos que as famílias de soldados do exército brasileiro que lutaram na guerrilha receberam os corpos de seus filhos, seus parentes. Nós, até hoje, não recebemos e este é um direito inalienável do cidadão brasileiro. É preciso que o governo tenha coragem de abrir os arquivos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Já se passaram trinta anos, por que não revelar os fatos? ", indaga a militante.
Em julho, a Justiça determinou a quebra do sigilo de informações sobre as operações militares na guerrilha do Araguaia. Na próxima semana, o governo vai reinstalar a comissão dos mortos e desaparecidos políticos, criada para indenizar os familiares do regime militar. A Secretaria Nacional de Direitos Humanos já propôs a criação de um banco de DNA, que vai armazenar as informações genéticas dos parentes das vítimas. Esse banco, que funcionará em convênio com a Universidade de São Paulo, servirá para o cruzamento dos exames dos familiares com as ossadas já encontradas.
O cineasta Ronaldo Duque explica que teve dificuldades em reunir material para o filme. Segundo ele, o Exército brasileiro não contribuiu com o levantamento documental necessário para produção. Embora "Conspiração do Silêncio" seja uma ficção, sua história é baseada em pesquisas e entrevistas de religiosos, sobreviventes, familiares dos desaparecidos e moradores da região onde aconteceu a guerrilha. "Nós pedimos que o Exército nos ajudasse a contar essa história, mas durante todos esses anos só recebemos informações do povo", explica o cineasta.
"Conspiração do silêncio" é um longa-metragem de 1h46. Filmado no Pará, tem a participação de Norton Nascimento, Françoise Fourton e Danton Melo. A história é contada a partir de um padre francês que vive na região onde começa o conflito. A produção contou com recursos privados e estatais e, segundo Duque, será concluída em dezembro próximo.