Repúdio à violência de manifestantes une governo e oposição

06/08/2003 - 19h12

Brasília, 6/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Os estilhaços das vidraças da Câmara, quebradas hoje por um grupo de manifestantes que participaram da marcha contra a reforma da Previdência, geraram um fato político que uniu parlamentares dos mais variados espectros políticos, do PT ao PFL. No início da tarde, os cerca de 40 mil manifestantes que estavam na Esplanada dos Ministérios desceram o gramado do Congresso, invadiram a rampa geralmente utilizada para receber chefes de Estado e de Governo e, a pau e pedra, arrebentaram várias vidraças do prédio criado por Oscar Niemeyer. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), classificou a atitude de criminosa, intolerável e antidemocrática.

O departamento médico atendeu 10 pessoas, com ferimentos leves, entre seguranças, funcionários da Casa e manifestantes. Em pronunciamento feito no plenário, ao abrir a Ordem do Dia, João Paulo propôs que a resposta ao grupo de manifestantes fosse dada pelos deputados votando as matérias em pauta e cumprindo normalmente os trabalhos previstos para hoje. "Esse poder não se calará ante minorias, muitas vezes histéricas e descontroladas, que nos jogam pedras à guisa de sensatez e de argumentos", afirmou.

Por conta do quebra-quebra, a sessão plenária chegou a ser suspensa, por 30 minutos, no início da tarde. Quem presidia a Mesa, no momento, era o primeiro vice-presidente, Inocêncio Oliveira (PFL/PE). Ele foi informado pela segurança da Casa que os manifestantes tentavam invadir o parlamento. Um deles foi detido no Salão Negro, levado ao posto médico para ser medicado e, em seguida, preso.

O deputado Moroni Torgan (PFL-CE), que na madrugada de hoje votou contra o texto principal da reforma da Previdência, defendeu que a sessão fosse mantida para mostrar que "atos de brutalidade não são capazes de intimidar o Congresso". Defensor do adiamento da votação dos destaques apresentados à reforma, Moroni Torgan considerou até mesmo a necessidade de se apreciá-los como resposta aos servidores públicos.

Do mesmo raciocínio compartilhou o deputado Antonio Carlos Biscaya (PT-RJ). Segundo ele, uma eventual paralisação dos trabalhos legislativos serviria apenas para fortalecer esse tipo de ação. O líder do PSB na Câmara, Eduardo Campos (PE), foi mais duro com os manifestantes. No seu entender, o ato não foi de manifestação pública, mas de vandalismo e, como tal, deveria ser tratado pela polícia. Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) ressaltou que os trabalhos parlamentares não podem ser ameaçados e, para preservá-los, não descartou a possibilidade de se aumentar o efetivo de segurança da Polícia Militar.