Brasília, 6/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - O ministro da Educação, Cristovam Buarque, disse hoje na abertura do seminário "Universidade: por que e como reformar?", que a inclusão e a igualdade sociais e o desenvolvimento sustentável devem ser o eixo principal da mudança nas políticas institucionais das universidades. "A educação de qualidade passa por uma universidade de qualidade, desde que ela seja também comprometida socialmente, hoje e nas próximas décadas", afirmou Cristovam. Entre os compromissos sociais, o ministro citou a participação das universidades na melhoria da educação básica e na erradicação do analfabetismo.
Promovido pelo MEC, o seminário que tem a participação de cerca de 1.400 pessoas e busca propostas para o novo modelo de ensino superior do país. O evento prossegue nesta quinta-feira (7), no Clube do Exército, em Brasília.
Transformar as instituições privadas de ensino superior em fundações foi uma das sugestões apresentadas pelo vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Carlos Vogt. "O lucro deve ser um dos elementos do ensino privado e não o principal", defendeu.
Apesar do tema da discussão ter sido "Sociedade, Universidade e Estado: autonomia, dependência e compromisso social", Vogt disse que a questão é muito importante e precisa fazer parte da agenda de discussões. De acordo com ele, 86% dos universitários, em São Paulo, estudam em instituições privadas e o restante, apenas 14%, nas públicas.
O financiamento dos estudantes carentes, a autonomia financeira e intelectual das universidades, a articulação entre o ensino superior e os outros níveis de educação foram questões discutidas pelos participantes. Além de Carlos Vogt, a mesa teve a participação da professora de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), Marilena Chauí; do reitor da Universidade Cândido Mendes, professor Cândido Mendes; e do professor emérito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Brasileira de Letras, Eduardo Portella.
Marilena Chauí defendeu a total reestruturação da grade curricular e o fim do sistema de créditos, mecanismo que contabiliza o número de horas/aula dos estudantes. Segundo ela, este sistema e organização curricular atual foram criados para atender uma necessidade de ampliação do atendimento. "Estão mascarando a realidade quando dizem que estão democratizando o ensino superior. Não é verdade, isso é massificação", afirmou a professora.
O currículo e o sistema de créditos, na sua avaliação, geram uma superficialidade e a fragmentação do conhecimento adquirido. "E depois dessa fragmentação ainda propõem a interdisplinaridade", observou Marilena. Ela propôs ainda que se restrinja para 30 o número máximo de alunos por professor.