Brasília, 5/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - A tramitação da reforma da Previdência na Câmara, além de mostrar as profundas dissidências nos partidos de esquerda com relação ao tema, trouxe questionamentos sobre os limites que separam direito à manifestação pública e vandalismo. Como na votação da proposta de reforma previdenciária na comissão especial há duas semanas, os servidores públicos voltaram a se confrontar com policiais militares e seguranças da Câmara, do lado de fora do Congresso. Dentro do parlamento, funcionários do Legislativo agrediram fisicamente o vice-líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), que atravessou os corredores das comissões da Câmara sob os gritos de "ladrão e traidor".
Luizinho foi abordado aos berros por servidores do Legislativo quando se dirigia ao gabinete do deputado José Pimentel (PT-CE) para discutir mudanças no texto da reforma. Ele foi obrigado a passar por um aglomerado de manifestantes que estavam num dos corredores da Câmara. Neste momento, começou a ser insultado e foi atingido com um chute na perna. O caso só não ficou mais sério porque os seguranças da Câmara interviram, formando um cordão de isolamento entre o parlamentar e os servidores.
O episódio deixou o vice-líder indignado. "Eles sabem que estão fazendo algo ilegal. Estão se utilizando do fato de serem funcionários para impedir os deputados de trabalhar aqui dentro", afirmou. Por serem servidores do Legislativo, o deputado não descartou a possibilidade de requerer a abertura de um processo administrativo para apurar o caso. Outro que não foi poupado pelos servidores públicos foi o líder do PT, Nelson Pellegrino. No momento em que um sindicalista, do alto do carro de som instalado em frente ao Congresso, anunciou que o requerimento do parlamentar pedindo o encerramento da discussão da reforma havia sido aprovado pelo plenário, choveram vaias ao deputado baiano.
A ira dos manifestantes também teve como alvo bandeiras do PT que foram queimadas em frente à entrada do anexo II da Câmara. O ato criou dissidência entre os próprios servidores. Alguns subiram no trio elétrico estacionado no local para lembrar que nem todos os parlamentares do PT apóiam o relatório do deputado José Pimentel. O manifestante Evandro Luiz, que afirma ser um dos fundadores do PT em Pernambuco, queimou sua carteira de filiação ao partido. Disse sentir-se envergonhado com a reforma que o governo propôs à Nação "para atender banqueiros e ao Fundo Monetário Internacional".
Às 13h20, o tempo esquentou de vez no anexo II. Com os deputados João Fontes (PT-SE), Luciana Genro (PT-RS) e João Batista Babá (PT-PA) à frente, os servidores tentaram invadir as dependências da Câmara. Foram contidos pelos policiais militares e seguranças que estavam no local. Os manifestantes jogaram vinagre nos policiais e arrancaram as cercas de proteção colocadas para barrar o ingresso de pessoas não autorizadas. Para evitar confrontos nas dependências da Câmara, o presidente João Paulo Cunha determinou a distribuição de 100 senhas a representantes das entidades sindicais.
Para amanhã (6), quando está programada a marcha dos trabalhadores contra a reforma da Previdência, organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), serão mobilizados 4.500 policiais militares para garantir a segurança externa do Congresso. A expectativa da CUT é reunir na Esplanada dos Ministérios de 20 mil a 40 mil trabalhadores.
(Marcos Chagas, Ana Paula Marra, Célia Scherdien, Lourival Macedo e Lima Rodrigues)