Brasília, 30/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - No Brasil, 96% dos 36,6 milhões de veículos são responsáveis pelo transporte de apenas 16% da população, mas 80% das pessoas dependem do transporte público. A estatística é do Instituto Rua Viva. Para incentivar o debate sobre a questão da qualidade do trânsito nas cidades brasileiras, os Ministérios do Meio Ambiente e das Cidades vão promover o evento "Na Cidade sem Meu Carro".
O marco principal do movimento acontece no dia 22 de setembro, quando as pessoas serão incentivadas a deixarem seus carros em casa. "Queremos ter um novo ordenamento no uso do carro como transporte individual, para que ele seja usado mais a serviço do interesse coletivo do que do interesse pessoal. As pessoas podem se deslocar de casa para o trabalho nos seus carros, mas devem dar carona para seus vizinhos", disse o ministro das Cidades, Olívio Dutra, durante o lançamento do evento, nesta quarta-feira. O ministro defendeu a necessidade de maiores investimentos no transporte coletivo público para estimular a redução do uso individual de carros.
O grande volume de veículos nas ruas também tem conseqüências para o meio ambiente. Aproximadamente 40% das emissões de gás carbônico produzidas pelo uso do transporte são de carros particulares.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o evento também tem o objetivo de promover um "constrangimento ético". "No meu estado, o Acre, conseguimos muita coisa fazendo as pessoas se sentirem constrangidas eticamente", comentou.
Marina Silva disse que pretende dar o exemplo. "A melhor forma de liderança é a que se sustenta pelo exemplo. Na minha casa, tem um único carro que serve a toda a família, de sete pessoas. Eu virei para o trabalho num transporte coletivo ou se prevalecer a idéia de que alguns carros podem ser autorizados a fazer o transporte solidários virei dessa forma", prometeu.
Realizado desde 2001, o movimento "Na Cidade sem Meu Carro" é inspirado numa idéia que teve início na França, em 1997. No ano passado, o evento internacional mobilizou 1,6 mil cidades em 24 países. Na Europa, o efeito da mobilização foi acompanhado pelos órgãos ambientais que monitoraram a qualidade do ar no dia do evento e compararam com períodos anteriores. A redução média da emissão de monóxido de carbono foi de 35%.
No Brasil, o evento teve a participação de 25 cidades no ano passado. Em Santa Catarina, a idéia foi oficializada em forma de lei estadual, aprovada no mês passado. Como no movimento nacional, a adesão é voluntária porque o principal é conseguir uma mudança de comportamento.
"A intenção é mostrar que o espaço pode ser ocupado de forma diferente, que existem outros tipos de cidades, o que vai criando uma mudança de comportamento de tal forma que não é mais possível agir diferente. Foi assim com o cigarro, com o trabalho infantil, por exemplo", explicou a diretora do instituto Rua Viva, Liane Born, que participa da organização do evento.
Este ano os organizadores enfrentarão uma dificuldade a mais para convencer os motoristas a darem preferência para a caminhada, a bicicleta ou, no máximo, para o transporte coletivo: o dia cairá numa segunda-feira. "Conseguir a adesão das pessoas será um desafio muito maior do que no ano passado, quando o evento caiu num domingo", avalia Liane.