Fusão da Varig com a Tam preocupa empresas de serviço de bordo

29/07/2003 - 15h41

Brasília, 29/07/2003 (Agência Brasil - ABr) -A possível fusão da Varig com a Tam tem provocado bastante barulho. Funcionários das companhias temem que o desemprego aumente. Credores da companhia gaúcha estão receosos de não verem a cor do dinheiro da dívida. A população, por sua vez, está desorientada quanto aos preços das passagens. Mas um setor, especificamente, está bastante ansioso com os desdobramentos da aliança das duas maiores empresas brasileiras do ramo: a indústria do serviço de bordo, ou catering.

De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Catering (Abec), Pedro Orsini, a fusão pode até acabar com o serviço de alimentação de bordo nas empresas. "Cada uma tem sua particularidade, sua história. Mas dependendo de quem for comandar, esse serviço tende até a se extinguir. Essa é a visão dos caterings hoje", disse.

Números dos últimos meses ajudam a reforçar essa preocupação. De janeiro de 2001 a março deste ano, 2,7 mil pessoas já perderam o emprego. A Abec estima que outras 5,3 mil pessoas podem acabar engrossando a fileira do desemprego se a crise do setor aéreo não for amenizada.

"Estão salvando um setor que emprega cerca de 25 mil pessoas, mas esquecendo de um outro que emprega outras 20 mil, de forma direta e indireta. Nós estamos à margem desse processo. Ao fazer a fusão para salvar duas empresas, eles estão acabando com mais de 30 mil", critica Orsini. Além disso, ele estima que o País deixe de arrecadar, somente este ano, R$ 76 milhões em impostos com as 33 empresas do setor, que vem apresentado fraco desempenho.

É perceptível, também, a interferência da crise na geração de empregos indiretos.
De acordo com dados da Abec, somente a Sadia demitiu 100 funcionários, que trabalhavam com alimentos para o serviço de bordo, em função da crise. As empresas de catering representam hoje 5% do faturamento das grandes indústrias alimentícias.
Orsini explicou que a tendência das empresas de catering que atuam no país é servir outros mercados. As áreas mais prováveis para a migração destas empresas é o campo da hotelaria e da comida congelada, mas que isso demoraria uns dois anos, calcula. Ele prevê que as empresas multinacionais que atuam no mercado brasileiro devem optar por regiões mais atraentes, como a Ásia.

Ele adverte que o fim do serviço, no entanto, não vai ser decisivo no barateamento das passagens, ao contrário do que a população imagina, já que o custo de uma refeição não chega a 1% do preço da passagem. "As pessoas têm a ilusão que sem as refeições uma passagem vá custar até 15% menos".

O diretor de marketing da Gate Gourmet, uma das maiores empresas de catering no Brasil, Rodrigo Decerega, disse que está preocupado com a fusão. "Não sabemos qual será o novo modelo".

Somente a Gate Gourmet emprega mais de 1.500 pessoas. Decerega informou que a empresa não reagirá imediatamente à crise no setor, mas que estão acompanhando de perto. "Nós estamos esperando os resultados para saber qual postura a empresa irá tomar", disse.

Companhias aéreas

Para as companhias aéreas, o cenário futuro da indústria do serviço de bordo não revela-se tão catastrófico. De acordo com a Tam não haverá mudanças significativas no setor, no caso de um fusão com a empresa gaúcha. Isso porque as duas companhias já implementaram um processo de padronização do serviço de bordo nos seus vôos conjuntos, desde que formaram uma aliança em março deste ano. Somente a Tam oferece cerca de 800 mil refeições por mês.

Algumas companhias, como a Vasp, resolveram servir lanches aos passageiros em vez de refeições completas. A decisão foi tomada seguindo as tendências do mercado internacional. As mudanças mais drásticas na empresa começaram em 2001, quando reduziu a diversidade dos itens oferecidos nas refeições de bordo. Em março do ano passado a Vasp optou por manter somente os lanches. A Gol, desde sua criação, serve aos passageiros alguns complementos alimentares.

Venda direta aos passageiros?

A venda de refeições diretamente ao passageiro está sendo cogitada como uma alternativa para o setor. Nos Estados Unidos, a American West e a Northwest cobram até US$ 10 e a aceitação é boa, já que a tarifa de um trecho curto custa aproximadamente US$ 90. Essa solução, no entanto, no Brasil é duvidosa. "Como a passagem é muito cara, as pessoas não vão querer pagar por esse serviço adicional", afirma Orsini.