Meirelles rebate críticas de que o Banco Central foi conservador na redução da Selic

28/07/2003 - 19h27

São Paulo, 28/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reagiu hoje aos ataques do mercado que, na semana passada, classificou como conservadora a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em efetuar um corte de apenas 1,5 ponto percentual na Taxa Básica de Juros, a Selic, reduzindo-a de 26% para 24,5% ao ano. "Por trás da queda gradativa dos juros não estão insegurança, timidez, excesso de conservadorismo ou de cautela", defendeu Meirelles.

Ele justificou que a política adotada é reflexo de uma "assimetria bastante natural – e normalmente observada no comportamento dos melhores bancos centrais - entre a velocidade de um choque e o ritmo de reversão da política monetária à posição de equilíbrio".

No discurso de mais de nove páginas, perante a platéia de executivos e empresários do ramo imobiliário, Meirelles foi taxativo:"O Banco Central está comprometido em tomar as decisões corretas visando a convergência para as metas de inflação e não em buscar aplausos no curto prazo".

Ele atribuiu a um equívoco quando o mercado acusa a instituição de ter um comportamento assimétrico, o de agir sem hesitação quando eleva os juros e de ter um comportamento demasiadamente comedido na hora de reduzi-los. Em sua opinião, a reversão dos instrumentos de política monetária à posição de equilíbrio deve ser gradativa.

Se o choque tende a elevar a inflação, então a resposta adequada é um aumento rápido dos juros, seguido de uma reversão relativamente mais lenta. Da mesma forma, um choque inesperado que ameaçasse tornar a taxa de inflação baixa demais em relação ao objetivo de política monetária, o adequado seria responder com um corte rápido de juros, que só, gradualmente, tornariam a subir.

Em sua análise, há várias razões que justificam esse processo gradativo. Entre elas aponta que no caso concreto de um choque inflacionário, seja ele de oferta ou de demanda, a resposta da política monetária deve ser forte para sinalizar a disposição do Banco Central em combater seus efeitos sobre a inflação. "Quanto mais bem sucedida for essa reação, menor razão verão os agentes econômicos para passarem a projetar inflações sustentadamente mais elevadas. Quanto mais baixas as expectativas de inflação, menor será a rigidez de preços e menores tendem a ser tanto a inflação que afinal se verifica na realidade quanto o sacrifício do nível de atividade necessário para combater sua aceleração".

Segundo ele, a reversão tende a ser mais gradativa porque nem sempre se alcança sucesso total sem evitar que as expectativas de inflação se consolidem num patamar mais elevado. "A partir daí, a política monetária precisa perseverar para persuadir os agentes econômicos a projetarem inflações cada vez mais baixas para o futuro, mesmo que tenham visto inflações relativamente mais altas nesse meio tempo".

Ele assinalou ainda que" a cada momento a política monetária age sobre a economia não só através do nível corrente das taxas de juros de curto prazo (como nossa Selic), mas principalmente através das expectativas dos agentes econômicos sobre a trajetória futura dessas taxas curtas. Afinal, essa trajetória esperada que determina as taxas mais longas, praticadas nas operações de financiamento ao consumo ou à atividade produtiva".