Brasília, 23/7/2003 (Agência Brasil – ABr) - Utilizando anticorpos presentes no leite materno, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) produziram uma vacina transgênica contra a diarréia infantil causada pela bactéria Escherichia coli. Testada em ratos e coelhos ela alcançou um índice de imunização superior a 90% e brevemente será testada em seres humanos.
O trabalho coordenado pela pediatra e diretora do ICB, Magda Sampaio Carneiro, identificou no leite materno os anticorpos da classe IgA, que neutralizam a ação nociva de bactérias impedindo que se fixem à parede do intestino. Os pesquisadores injetaram os genes da bactéria Lactococus lactis, encontrada no organismo humano e inofensiva à saúde, e conseguiram produzir a vacina. Impedida de se fixar à parede intestinal, a bactéria é expulsa por meio das fezes pelo movimento peristáltico do intestino.
A E coli enteropatogênica é a bactéria mais encontrada em crianças de famílias de baixa renda acometidas de diarréia, infecção intestinal que causa desidratação e pode levar à morte se não for tratada a tempo. Anualmente, este microorganismo é responsável por cerca de 2,6 milhões de mortes de crianças com até dois anos de idade.
Para a criança que vive em condições precárias de higiene o aleitamento materno pode ser a diferença entre viver ou morrer. A ingestão de alimentos mal lavados ou lavados com água não tratada, a torna mais suscetível à ação de bactérias causadoras de infecção. Estudos laboratoriais feitos por Magda Sampaio descobriu que o leite materno é capaz de prevenir qualquer tipo de infecção no organismo infantil, durante os seis primeiro meses de vida, inclusive a diarréia.
"Usamos modelos in vitro – células em cultura com leite e bactérias – e encontramos anticorpos contra todos os fatores de virulência das bactérias, sobretudo a Escherichia coli", informa a pediatra. Segundo Magda Sampaio, durante a gestação a criança recebe por meio da placenta o anticorpo IgG, que protege apenas os tecidos, e desenvolve o IgA a partir do leite materno. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ideal é que todas as crianças sejam amamentadas até os dois anos de idade, conciliando a amamentação com outros tipos de alimentos.
O leite materno e composto de água, carboidratos, gorduras, proteínas em grande quantidade e elementos de defesa, que contêm um tipo especial de proteína, algumas enzimas e muitas células. Por isso, com ou sem vacina, amamentar a criança pelo maior tempo possível é uma forma natural de reforçar sua imunidade contra agentes patológicos. (Com informações da Agência USP)