Rio, 23/7/2003 (Agencia Brasil - ABr) – O governo pretende iniciar neste ano o mapeamento do setor de agricultura orgânica no país, para avaliar sua real dimensão, tendo em vista que as áreas plantadas, bem como a comercialização, não correspondem à realidade. O Ministério do Desenvolvimento Agrário vai identificar os produtores que estão trabalhando de forma associativa com agricultura orgânica e, depois, definir uma fórmula, para identificar todos os que adotam esse sistema de produção. Os instrumentos para isso já estão sendo desenvolvidos junto com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Segundo o gerente de Negócios e Comércio do ministério, Vital de Carvalho Filho, atualmente, o governo trabalha com estimativas e informações fornecidas pelas certificadoras, mas quer ter dados mais concretos sobre o setor. "Esse é um desafio que o atual governo quer poder responder", assegurou Carvalho Filho. Dados recentes indicam a existência no Brasil de apenas 275 mil hectares cultivados com produtos orgânicos ou em conversão. Desse total, 158 mil hectares são ocupados com agricultura e 119 mil, com pastagens. Segundo Carvalho Filho, a principal vantagem da agricultura orgânica sobre a convencional é trabalhar com princípios sustentáveis. "Com o modelo convencional, baseado no uso intensivo de máquinas agrícolas, veneninhos e adubos químicos, a gente mata o solo", disse.
Ele informou que as estatísticas mostram de forma clara a queda de produtividade, quando se implementa um sistema convencional. "E o governo está pregando um modelo que seja sustentável, que produza hoje bem e amanhã, melhor ainda", afirmou. De acordo com Carvalho Filho, para isso, o único caminho é a agriecologia, "produzindo alimentos de boa qualidade, garantindo uma terra boa para gerações futuras e gerando um produto de baixo custo".
Carvalho ressaltou que a agricultura familiar tem tudo a ver com isso: disponibilidade de mão-de-obra, diversificação e poucos insumos. Ele esclareceu que o que torna a agricultura orgânica não é usar poucos insumos, mas levar o produtor a utilizar insumos fabricados em sua própria propriedade, como os compostos orgânicos, a adubação verde, que são mais baratos e sustentáveis, além de eliminar a necessidade de recorrer a mercados externos. Outro elemento que mostra a sustentabilidade da agricultura orgânica é o fato de fixar o homem na terra, impedindo o êxodo para as cidades, para aumentar a massa de miseráveis. "É viável o agricultor produzir orgânicos: ele vai ter saúde e mercado. Se tem esses dois fatores e uma terra que está produzindo cada vez mais, ele não irá abandonar a terra", garantiu.
De acordo com Carvalho, aí entram outras políticas que têm de ser desenvolvidas junto ao produtor rural, para fixar o homem no campo, como saúde, energia, assistência técnica, pesquisa, através de programas que estão sendo discutidos com o Ministério das Cidades, Eletrobrás e Embrapa. "Acreditamos que, com tudo isso, vamos dar melhor qualidade de vida para quem está no campo e, conseqüentemente, garantir que ninguém vai querer sair de lá. Pelo contrário, vão querer ir para lá, como ocorreu na Europa".
Em setembro, o Ministério do Desenvolvimento Agrário dará apoio à I Conferencia Biofach da América Latina, que se realiza no Rio. Esta é a mais importante feira internacional de produtos orgânicos.