Manifestantes provocam tumulto na Câmara e ofendem Genoíno

22/07/2003 - 19h48

Brasília, 22/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - A bancada do PT fechou questão, hoje, em torno do relatório da reforma da Previdência do deputado José Pimentel (PT-CE) a portas fechadas e ao som de um apitaço promovido por manifestantes contrários a proposta. A reunião aconteceu no auditório da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Dezenas de manifestantes, a maioria policiais civis do Distrito Federal e de outros estados, tentaram entrar à força na CCJ para protestar contra o fechamento de questão.

A reunião só aconteceu porque seguranças da Câmara impediram a entrada dos manifestantes. Vários foram identificados como provocadores infiltrados para incitar ações mais hostis. Entre gritos exaltados, alguns tentaram forçar a porta da CCJ chutes. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), teve que fazer um caminho tortuoso secreto para não atravessar o corredor de manifestantes. O presidente do PT, José Genoíno, foi ofendido com o arremesso de moedas e notas de um real sobre ele quando deixava a comissão.

Em total desrespeito à biografia do parlamentar, alguns gritaram em coro: "Genoíno, dedo-duro do Araguaia". Ex-guerrilheiro de esquerda, Genoíno foi preso preso pelo Exército na década de 70 no início da guerrilha do Araguaia (TO). Durante todo o percurso entre a CCJ e o plenário, ele foi agredido verbalmente pelos manifestantes. Forte esquema de segurança impediu que o parlamentar fosse agredido.

Em nenhum momento o presidente do PT respondeu às provocações dos manifestantes. Ele limitou-se a sorrir e fazer o vê da vitória com as duas mãos, enquanto era chamado de "traidor" e "genocídio". Pelego foi o adjetivo mais brando usado contra os parlamentares petistas.

Outro parlamentar visado pelos servidores foi o vice-líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP). Aos gritos, eles o chamaram de "traidor" e "representante do FMI". Os manifestantes foram conduzidos à comissão pelos deputados João Fontes (PT-SE), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e João Batista Babá (PT-PA). Tanto João Fontes quanto Babá respondem a processo disciplinar do partido. Impedidos pela segurança da Câmara de entrarem na CCJ, os manifestantes chegaram a esmurrar e chutar as paredes, feitas de divisórias, da comissão.

Perguntado o que achava do ato, João Fontes afirmou que tratava-se de "uma manifestação democrática". Novamente questionado se considerava os chutes e socos dos servidores na parede da comissão uma "manifestação democrática", o parlamentar sergipano limitou-se a responder que não podia falar "pelas entidades" e que seu papel era outro: o de negociador. "Tentei intermediar (o acesso dos manifestantes a comissão) e eles não quiseram, o problema não é meu".

Ao perceber que a imprensa registrava as imagens dos servidores chutando as paredes, Fontes mudou o discurso. Pediu aos manifestantes que parassem "porque a atitude não seria bem vista pela opinião pública". Em entrevista à redes de televisão, o parlamentar mudou reformulou sua opinião sobre o episódio. "Ninguém aprova, você participou ali quando eu fui pessoalmente mostrar a alguns servidores que não é a maneira correta de se depredar patrimônio público. Nós falamos em manifestação pacífica, não incitamos nenhuma manifestação que traga prejuízo ao operário público", afirmou.

Já o deputado Babá lamentou que a bancada do PT tivesse que "se esconder" para votar o fechamento de questão em torno da proposta de reforma da Previdência. Segundo ele, trata-se de um relatório "frontalmente" contra os servidores. Em solidariedade aos segmentos de servidores públicos representados no ato, Babá recusou-se a participar da reunião da bancada.