Brasília, 20/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - Moçambique será o segundo país africano visitado por uma equipe técnica brasileira para verificar as possibilidades de produção própria de
retro-virais genéricos de combate à Aids. A viagem prospectiva começa hoje. No ano passado, Angola recebeu o aval técnico brasileiro e a indústria farmacêutica local, a Ango-Farma, busca agora viabilizar recursos para instalação de laboratórios específicos de produção dos genéricos antivirais. Irão à capital moçambicana, Maputo, os diretores das áreas de Produção Industrial, Said Maria Tebet Queiroz, e de Controle de Qualidade, Leonardo César Coutada.
Segundo Paulo Meireles, assessor do Ministério da Saúde para a área de DST/Aids, a missão dos brasileiros, depois dessa viagem, será desenvolver um projeto, com os recursos que serão detectados por esses técnicos, para uma fábrica de retro-virais, e posteriormente, transferir a tecnologia de produção de medicamentos, além de capacitar técnicos necessários para tocar os laboratórios.
Moçambique é um dos países com maior número de infectados pelo vírus da Aids – com uma população de 19,7 milhões, há quase um milhão e meio de pessoas com o vírus da doença. "A prevalência, isto é, o número de pessoas em idade sexualmente ativa doentes, está hoje em 15%", afirmou Paulo Meireles. Alguns países africanos, como Botsuana, têm índice de contaminação maior - 36% de prevalência - mas a população é significativamente menor. Outros, como a África do Sul, com população maior - 40 milhões de habitantes - têm prevalência também alta: 20% da população.
Paulo Meireles informou que o governo brasileiro pretende o governo moçambicano na busca de recursos para viabilizar a produção própria de genéricos. "Uma das idéias aventadas é a reconversão de parte da dívida externa com o Brasil", disse ele. Moçambique teve 95% de sua dívida, de cerca de US$ 300 milhões, perdoada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. O remanescente, imperdoável, poderia ser usado para construção de laboratórios de genéricos.
Antes, porém, que seja possível aos moçambicanos produzir os retro-virais, 100 moçambicanos infectados pelo vírus da Aids iniciarão o tratamento da doença com auxílio do Brasil. Moçambique, ao lado da Namíbia, Burundi, Quênia, Burkina Fasso, na África, e El Salvador, Guiana, República Dominicana, Colômbia e Paraguai, nas Américas, começarão a receber, a partir de agosto, lotes de coquetel anti-Aids fornecidos pelo governo brasileiro.
A viagem que o presidente Luiz Inácio da Silva fará à África, no início do próximo mês, marcará o início dos tratamentos que serão ministrados em Moçambique e Namíbia, dois dos países que Lula deverá visitar naquele continente. A visita de Lula aos moçambicanos também servirá para levar outro reforço ao combate à Aids. Na ocasião, serão distribuídas naquele país três mil cartilhas com instruções para prevenção da doença. Mil cartilhas serão destinadas a profissionais do sexo e duas mil a adolescentes, informou Paulo Meireles.
A produção dessas cartilhas foi o resultado da primeira fase de cooperação brasileira com Moçambique para combate à Aids. O processo de colaboração teve início há três anos, quando o Brasil e o Programa das Nações Unidas para o combate ao HIV/Aids capacitaram pessoal da sociedade civil para disseminação de condutas preventivas e da área clínica para manejo de retro-virais. A idéia das cartilhas surgiu nessa ocasião. A segunda fase de cooperação, o denominado Projeto Ntwanano - que no dialeto moçambicano xananga significa aliança – se ocupou com a gestão do programas preventivos e de assistência aos tratamentos administrados em pessoas infectadas. "Essa fase, que ainda se encontra em execução, implica capacitação de pessoal de saúde em Moçambique, onde há muito pouco pessoal treinado em manejo de doenças", disse Meireles.
Equipes médicas moçambicanas estão sendo preparadas, desde então, para administrar os tratamentos que serão realizados com o coquetel anti-Aids, fornecidos pelo governo brasileiro, por meio do Programa de Cooperação Internacional de combate à Aids. "Estamos também desenvolvendo programas de gestão para repassar nossa experiência logística de distribuição de medicamentos, e a expectativa é que possamos estender essa ajuda para todo o país", concluiu o assessor do Ministério da Saúde.