Recife, 15/7/2003 (Agência Brasil – ABr) – Mais um manifesto ocorreu, hoje (15), na 55ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Os primeiros, contra a reforma da Previdência e o valor das bolsas para cientistas, marcaram a abertura do evento, no domingo. Desta vez, representantes de vários movimentos e organizações não-governamentais aproveitaram o simpósio "Plantas Transgênicas: do laboratório para o campo", para protestar contra o cultivo de alimentos geneticamente modificados no Brasil.
A manifestação aconteceu na área externa do teatro do Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com direito a faixas, distribuição de panfletos e palavras de ordem. Dentro do teatro, o debate científico em torno dos transgênicos mostrou que a polêmica em torno do assunto ainda está longe do consenso.
Na abertura do simpósio, o geólogo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Miguel Pedro Guerra, ressaltou que mais importante do que discutir o que fazer com as plantas transgênicas é discutir o que será feito com o planeta, que possui 3,2 hectares de terra agricultável por habitante. "Vai chegar o momento que teremos que pensar muito bem o que fazer com esses hectares", alertou. Guerra, que já defendeu a obrigatoriedade da realização de estudo ambiental para atividades agrícolas – "e quase fui linchado por isso" – quer apenas que o cultivo de produtos transgênicos, a exemplo de qualquer atividade agrícola, seja rigorosamente analisada e pesquisada em todos os seus aspectos econômicos, sociais e ambientais antes de qualquer tomada de decisão.
O pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Luiz Gonzaga Esteves Vieira, utilizou trechos de uma decisão judicial contra o plantio de transgênicos para ilustrar sua palestra "Plantas Transgências: Alien (extra-terrestre) hospedeiro com fisionomia peçonhenta". Para ele, a transgenia jamais deve ser encarada como geradora de alienígenas, mas um processo da biotecnologia que pode trazer resultados positivos ou negativos. Para Vieira, o sensacionalismo e a desinformação alimentados por defensores e opositores dos alimentos transgênicos estão prejudicando a tomada de decisão sobre a questão. "Da mesma forma que transgenia não é sinônimo de antinatural, os alimentos transgênicos não vão matar a fome do mundo", afirmou, referindo-se a algumas mentiras divulgadas pelos dois lados.
Ele lembrou ainda que os transgênicos vêm sendo pesquisados há mais de 15 anos e que até hoje nada foi encontrado contra os alimentos geneticamente modificados. "Nunca vi ninguém reclamando da insulina transgênica, que é utilizada com sucesso desde 1982", afirmou, ressaltando que qualquer decisão sobre o assunto deve ser política e não científica. "Essa é uma decisão essencialmente política e que deve envolver todos os segmentos da sociedade. A ciência pode ajudar a esclarecer pontos duvidosos", enfatizou.
Luiza Chomenko, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, defendeu a obrigatoriedade de estudos de impacto ambiental em áreas de cultivo de transgênicos e o rigoroso cumprimento das exigências de rotulagem e de informações detalhadas ao consumidor.