Lisboa, 9/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - Em solo português, o sucesso financeiro é meta de todos os imigrantes brasileiros. Caminhos distintos são tomados. Há aqueles que sofrem discriminação por estarem irregulares: são vistos como mão-de-obra competitiva. Outros conseguem um bom emprego e, apesar de não terem visto de permanência, não querem mais retornar ao Brasil. A disputa por trabalho não se dá somente entre brasileiros, mas também entre imigrantes eslavos, africanos e búlgaros, principalmente na construção civil, setor que mais absorve estrangeiros.
O músico goiano Oséias Rodrigues Fonseca, 26, foi preso há dois meses em Lisboa por não ter visto de residência. Voltava de uma apresentação em uma casa noturna. Ele está há oito meses em Portugal e apesar das dificuldades e do preconceito, mantém viva a esperança. "A visita do presidente Lula poderá ajudar a melhorar nossa situação", sonha. Fonseca sustenta seus quatro filhos enviando, mês a mês, suas economias à mulher no Brasil. Ele também trabalha como pedreiro e recebe 800 Euros (R$ 2.850) mensais.
Assim como ele, Rodelson Vieira de Almeida, 35, veio a Lisboa fazer o pé-de-meia. Também não tem visto de residência nem de trabalho. Consiguiu juntar 1,5 mil Euros (R$ 4.950) por mês, enquanto no Brasil ganhava R$ 1 mil trabalhando com pecuária. "Não sei como ficará minha situação daqui para a frente", afirma referindo-se ao decreto aprovado em março que estabeleceu a obrigatoriedade de visto de residência e emprego para a permanência em Portugal.
Se por um lado há quem não veja a hora de retornar ao Brasil, há também casos de adaptação completa. A mineira Joelma Zanone, 19, finalizou o segundo grau e partiu para Lisboa, onde vive há um ano e cinco meses. Ela mora com a irmã e o cunhado. Trabalha como garçonete em um restaurante.
Joelma possui contrato de trabalho, não tem visto de imigrante e não quer mudar de vida. A jovem trabalha oito horas diárias e ganha 500 Euros (R$ 1.700). Consegue enviar ao Brasil, todo mês, 300 Euros (R$ 900) para a família. Não se sente discriminada e diz que não quer saber de voltar. "Os portugueses são amáveis com os brasileiros, só os mais idosos acham que disputamos o mercado de trabalho com eles", afirma Joelma. "Além disso, se trabalho mais do que o estabelecido no contrato, recebo as horas extras. Se meu pai vier morar comigo, o Brasil não me verá nunca mais", declara satisfeita.