Brasília, 26/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - A montagem de estratégias factíveis para a retomada do crescimento, nos moldes do que prega o Plano Plurianual (PPA) do Governo Lula, passa necessariamente pela "demolição das definições de política macroeconômica", que resultaram na globalização com empobrecimento da maioria e na concentração de riquezas por poucos.
Foi o que afirmou o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, em exposição, hoje pela manhã, no I Seminário de Infra-Estrutura para o Desenvolvimento Sustentado. A afirmação de Ciro Gomes mereceu imediata confirmação de outro debatedor da Mesa, o economista Carlos Lessa, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que disse assinar em baixo da sugestão.
O modelo de desenvolvimento, segundo ele, tem que mudar para envolver ações das diferentes áreas de atuação do Estado, sempre em parceria com a iniciativa privada, de modo a "pensar grande" quanto à realização de obras que gerem infra-estrutura e empregos, tanto no Brasil quanto nos países vizinhos, porque elas "são pré-condição para a integração interna e do Continente".
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lembrou, inclusive, alguns exemplos de crescimento sustentado, que ocorreram pela sinergia de ações dos diferentes segmentes envolvidos. Caso da Cia Hidroelétrica do Rio São Francisco (Chesf), que gerou energia para o desenvolvimento do Nordeste; ou da Amazônia Meridional, que "é nossa por causa de uma decisão de infra-estrutura, que foi a construção da Belém-Brasília".
Nesse particular, o ministro da Integração Nacional lembrou até uma situação aparentemente contraditória pela população de Altamira, no Pará. Segundo ele, os habitantes daquela cidade têm saudades do governo militar (1964-1985), "não porque gostem de ditadura", mas porque gozavam de infra-estrutura mínima de urbanização realizada há época, que depois se deteriorou pelo abandono das administrações que se seguiram.
Para evitar que isso se repita, o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Guido Mantega, disse antes, no painel de abertura do seminário, que o atual governo "está tentando criar um caminho de desenvolvimento sustentado, nos níveis que desejamos, em torno de 5 a 7% ao ano", com grande imobilização de capitais, em parceria com a iniciativa privada.
Mantega mencionou a recuperação do planejamento de longo prazo, mas em um paradigma diferente do que foi adotado nos anos pós-guerra, quando a infra-estrutura era capitaneada pelo Estado. Como o Estado hoje "não tem condições de investimento", segundo ele, a saída é através de parcerias com o setor privado, securitização de títulos e linhas de crédito como a que o Banco Mundial dispõe para financiar obras de infra-estrutura, no valor de US$ 5 bilhões por ano.
Ele disse que o Brasil ainda é um país pouco integrado internamente, em algumas regiões, e "precisamos corrigir essas deficiências para podermos partir para um integração eficiente do bloco latino-americano, como deseja o presidente Lula; e tudo isso está na alça de mira do PPA".
O seminário, promovido pela Fundação Perseu Abramo, do PT, também teve a participação do presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, que dissertou sobre a necessidade de conclusão do gasoduto para levar gás natural do Campo de Urucum para Manaus, além da instalação de uma usina termoelétrica para resolver a carência local de energia elétrica.
Numa análise mais ampla, o cientista da UFRJ condenou o "descaso de décadas" com o abastecimento nacional de energia, que resultou na privatização do setor e conseqüente retirada gradativa de investimentos oficiais, e que cumulou com o apagão de 2001. "Não estamos livres de que possa faltar energia novamente", disse ele. Isso vai depender, em grande parte, do ritmo de crescimento do país, porque as ações nesse setor são de longo prazo, acrescentou.
Com o objetivo de evitar que isso ocorra, Pinguelli Rosa mencionou as duas mais importantes iniciativas para garantir energia. Uma, em adiantado estágio, é a usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), que vai socorrer parte do abastecimento do Nordeste e "aliviar um pouco" as águas do Rio São Francisco para outros fins; e a outra, em fase de maturação, diz respeito à construção de três usinas no Rio Madeira: duas do lado brasileiro e uma na Bolívia, num projeto de integração com a Amazônia andina.
(Stênio Ribeiro)