Brasília, 25/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva feito ontem, durante cerimônia na Confederação Nacional da Indústria (CNI), provocou um boicote da oposição à solenidade em que o presidente convocou extraordinariamente o Congresso Nacional para trabalhar durante o recesso de julho. Os líderes do PDT, PSDB e PFL decidiram não comparecer ao Palácio do Planalto exigindo uma retratação pública do presidente. Segundo o líder do PSDB no Senado, Arthur Vigilio (AM), o Congresso é soberano para decidir e legislar sobre as reformas. "Só Deus poderá impedir que a gente as faça", afirmou, ao confirmar que não iria participar do evento.
Para evitar uma crise entre os poderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se retratou, dizendo que suas declarações foram mal interpretadas. "Eu fui pego de surpresa com uma manchete no jornal dizendo que nem o Congresso Nacional impediria as reformas", afirmou. Lula fez questão de reler o discurso: "Nada, podem ficar certos que nada, nem chuva, nem geada, nem terremoto, não tem cara feia, não tem nem o Congresso, nem o Poder Judiciário. Só Deus será capaz de impedir que a gente faça este país ocupar um lugar de destaque", disse, ressaltando que, em nenhum momento, se referiu às reformas tributária e previdenciária.
Se dirigindo aos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha, e do Senado, José Sarney, o presidente Lula pediu que os deputados e senadores sejam informados de que não "passou pela cabeça do presidente qualquer ofensa ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário". Lula afirmou que tem dado demonstrações inequívocas não apenas do respeito, mas da "relação que o governo quer e precisa ter com o Congresso", e se colocou à disposição para conversar com o qualquer parlamentar que tenha se sentido ofendido. "Não há nada pior na política do que equívoco", disse.
Sobre a convocação extraordinária do Congresso Nacional para julho, o presidente disse esperar o comparecimento de todos os parlamentares para que as reformas possam seguir em tramitação e serem aprovadas ainda este ano. A mensagem de convocação e a pauta serão enviadas ao Congresso no dia 30 deste mês. O governo espera que a reforma tributária esteja pronta para ir ao plenário da Câmara no dia 6 de agosto, e a previdenciária no dia 12 do mesmo mês.
Cada parlamentar receberá um salário de R$ 12.720 no início e outro, no mesmo valor, no fim da convocação, o que vai custar aos cofres públicos mais de R$ 20 milhões.