Brasília, 25/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - Apenas 1% dos dependentes químicos consegue se reabilitar sozinho, 90% precisam do apoio externo da família, dos colegas de trabalho e de organizações de saúde. Só com o álcool, a dependência chega a atingir 11,2% da população brasileira. Esse número preocupa o Ministério da Saúde, que vai submeter, dentro de um mês, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proposta de reformulação da legislação que regula a propaganda de bebidas alcoólicas nas emissoras de rádio e de televisão. De acordo com o secretário-executivo do Ministério, Gastão Wagner, a lei precisa mudar. "É necessário impor limites às propagandas que associam auto-estima ao uso de drogas".
O secretário Nacional Antidrogas, general Paulo Roberto Uchôa, também defende uma legislação mais rigorosa para propagandas de bebidas alcoólicas. "Já que é considerada uma droga lícita, não somos contra as propagandas, mas não apoiamos o incentivo. É preciso que as próprias empresas produtoras se atentem para impedir o uso abusivo pelos jovens", explica.
O álcool é responsável por 50% dos acidentes de trânsito e por 90% dos atendimentos das emergências psiquiátricas. Mais da metade da população já fez uso de bebida alcoólica e o problema não poupa nem mesmo as crianças. De acordo com dados da Secretaria Nacional Antidrogas, menores de 10 anos já fazem uso do álcool. Profissões mais competitivas são as que mais levam à dependência, porque os profissionais procuram no álcool o alívio para tensões do dia-a-dia.
Todos esses números levaram as autoridades de saúde a pensar em ações pontuais e de curto prazo. E o Ministério da Saúde decidiu investir na reabilitação dos usuários. Segundo Gastão Wagner, serão criados, até o final deste ano, 74 centros de reabilitação dos usuários de drogas. A intenção é que todos os municípios com mais 200 mil habitantes tenham um centro desse tipo. A meta do ministério é que 250 centros sejam construídos até 2004. Os centros prestarão atendimento psicológico e social aos usuários.
Gastão Wagner defende uma proposta considerada polêmica em diversos setores da sociedade. A descriminalização do uso de drogas. "A criminalização dificulta o tratamento pela equipe de saúde. Precisamos combinar tolerância e apoio. Dependência química não é crime, é problema de saúde pública", afirmou.
O secretário informou que o Ministério da Saúde também pretende redefinir as normas que regulam organizações da sociedade civil de apoio a usuários de drogas, promovendo uma separação legal mais clara entre as organizações que prestam apoio para reinserção do dependente à sociedade daquelas que têm função de tratamento terapêutico.
O alcoolismo foi o principal tema de discussão hoje da 5ª Semana Nacional Antidrogas, que está sendo realizada, no Palácio do Planalto, até amanhã (26).