MST não vai parar ocupações

24/06/2003 - 15h16

Brasília, 24/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - O coordenador nacional do Movimento Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, afirmou hoje que as ocupações de terra vão continuar. Segundo ele, o movimento não está disposto a esperar a finalização do plano de reforma agrária do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.. Segundo Rodrigues, existem hoje 90 mil famílias acampadas em todo o país e que precisam ser assentadas imediatamente. Só no último final de semana, ocorreram 18 invasões de terras no estado de Pernambuco.

O MST quer que o governo apresente um plano de reforma agrária com uma meta a ser cumprida. "Nossa avaliação é que isso tem que ser feito de maneira urgente porque, até agora, nenhuma família foi assentada no governo Lula", afirmou. Rodrigues considera importante a reunião que o MST terá com o presidente na segunda semana de julho. Disse, no entanto, que não haverá trégua. "As ocupações só vão diminuir na medida em que aumentarem os assentamentos de reforma agrária", disse.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, contestou os números apresentados pelo MST. Segundo ele, desde o início do ano foram assentadas três mil famílias em todo o país. Afirma terem sido criadas condições para o assentamento de outras sete mil. Rosseto garante que mais de 200 mil hectares de terra já foram desapropriados. "O primeiro semestre de um governo é assim mesmo", ressaltou. Segundo ele, é possível haver mudanças na atual legislação sobre terras ocupadas. Pela lei, as propriedades tomadas por trabalhadores sem-terra ficam impedidas de abrigar assentamentos. "Claro que a lei pode ser modificada. Todas as leis podem", disse Rosseto. Segundo ele, o governo está trabalhando em uma adequação institucional para agilizar o processo de aquisição de terras e assentamento.

O presidente Lula reconheceu hoje que o governo ainda precisa estabelecer um plano de reforma agrária. Alertou, no entanto, que em política é preciso atacar uma frente de cada vez. "A reforma agrária é um sonho, um desejo e um compromisso moral, político e ético da minha vida e do meu governo. Nós sabemos o tamanho do problema, sabemos o caminho para a solução e sabemos que vamos busca-la", disse o presidente. Lula alertou para os erros que poderão ser cometidos por causa da pressa. "Um erro em qualquer outro governo é mais um erro. No nosso, não pode acontecer", afirmou. Segundo Lula, o ministro Miguel Rosseto, está elaborando um plano de reforma agrária que será apresentado em breve à população. Ele falou durante a solenidade de lançamento do Plano Safra 2003-2004, no Palácio do Planalto.

Usando a agricultura como exemplo, o presidente, mais uma vez, pediu que se tenha paciência com o governo. "Não adianta plantar feijão e querer que ele nasça em 10 dias. Não vai nascer. Vai ser preciso esperar 90 dias para ele nascer. Assim é a política", falou Lula. "As coisas não acontecem no tempo em que agente quer. Elas acontecem no tempo em que a gente prepara para elas acontecerem. E nós estamos preparando, há seis meses".

Sobre o novo plano para a agricultura familiar lançado hoje, o presidente destacou quatro pontos que considera fundamentais: a preocupação em vincular a distribuição de crédito para agricultura familiar antes da época do plantio; a inclusão da mulher como postulante ao crédito, independente dos recursos requeridos pelo marido; o crédito destinado ao agricultor jovem, com o objetivo de estimular sua permanência no campo; e a criação de uma linha para financiar investimentos agrícolas para a parcela do setor que não pode ser caracterizada como agricultura familiar, mas ainda não tem o porte da agricultura empresarial.

O presidente Lula aproveitou para reforçar a importância das reformas tributária e previdenciária. Ele afirmou que fará tudo o que puder para melhorar a vida do brasileiro, inclusive as reformas. "Tem gente que não gosta, mas é normal. Eu não espero que as pessoas gostem de tudo". Lula garantiu que as reformas são fundamentais para que haja justiça social no país. "Para fazer mais justiça é preciso fazer todas as reformas que temos que fazer: a política, a sindical, a trabalhista, a previdenciária, a agrária e todas as outras reformas que se apresentarem para nós", afirmou.