Brasil conhecerá espetáculo do crescimento, garante Lula

24/06/2003 - 19h07

Brasília, 24/06/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu hoje mais um sinal de que as altas taxas de juros cobradas atualmente no país serão reduzidas para menos de dois dígitos durante o seu governo. Ao referir-se aos juros cobrados para empréstimos, Lula disse que a população brasileira não pode mais continuar pagando taxas "escorchantes" como as oferecidas atualmente pelas empresas de crédito. "Hoje, uma pessoa que precisa pegar R$ 200,00 numa dessas empresas que fazem propaganda na televisão. No final do ano, paga 332% de juros. Nós queremos emprestar esse dinheiro a 2% para a pessoa poder pegar e poder comprar, diminuir o crédito nas lojas, para comprar comida, inclusive", enfatizou Lula.

Ao discursar durante a entrega de prêmios do Concurso Nacional de Criatividade para Docentes, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o presidente também aproveitou para reiterar que nos próximos quatro anos o Brasil vai conhecer o "espetáculo do crescimento" em todo o país. Ciente das dificuldades que vai enfrentar para fazer o Brasil crescer, o presidente aproveitou para fazer um desabafo. Ele garantiu que ninguém vai impedir a sua determinação, ou mesmo diminuir a sua fé, em transformar o país. "Pode ficar certo de que não tem chuva, não tem geada, não tem terremoto, não tem cara feia, não tem o Congresso Nacional, não tem o Poder Judiciário. Só Deus será capaz de impedir que a gente faça esse país ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar", enfatizou.

Para o presidente, alguns membros do Poder Judiciário e do próprio Congresso Nacional vêm questionando pontos das reformas tributária e previdenciária propostas pelo governo federal e podem, com isso, retardar as transformações no país. As reformas são o carro-chefe do governo para o equilíbrio das contas públicas e para o início da retomada do crescimento. "Nós sabemos das dificuldades, mas sabemos também que se não houver determinação, eu diria quase que um trabalho de abnegação de todas as pessoas, a gente não conseguiria o intento", disse.

As críticas do presidente foram estendidas aos seus antecessores. Lula ressaltou o fato de, nos últimos anos, o Brasil não ter conseguido reverter sua imagem de país "terceiro mundista" no exterior. Numa referência implícita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula disse que, em apenas seis meses de governo, conseguiu mudar a política internacional enquanto "muitos que estudaram a vida inteira não conseguiram fazer".

Embora esteja disposto a mudar a política externa do país, Lula quer garantir que dentro do Brasil os programas já iniciados em outros governos, e que continuam trazendo bons resultados, sejam mantidos. O presidente citou nominalmente o exemplo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), extinta há dois anos, quando era responsável por captar 60% do ICMS para a região. "No Brasil foi se acabando um monte de coisas sem colocar outras no lugar. Isso não é possível. O Brasil precisa compreender que o país não é nosso. Governamos o país com prazo determinado", afirmou.

A cerimônia de entrega dos prêmios a professores e instituições que promoveram a qualificação profissional no país foi marcada pela informalidade. O próprio presidente deu o tom. Ao receber de presente das mãos do detento José de Jesus Gonçalves, de Minas Gerais, uma cadeira de madeira confeccionada dentro da prisão durante um curso de marcenaria do Senai, o presidente não perdeu tempo: sentou-se na cadeira em frente à platéia de mais de 300 pessoas presentes na Confederação Nacional da Indústria. Lula arrancou risos do auditório, e ressaltou a importância dos cursos profissionalizantes oferecidos pela instituição.

"O Senai pode não ter o valor para uma pessoa que foi para a universidade, mas para uma pessoa pobre, o Senai passa a ter um valor maior que qualquer curso importante", enfatizou. O presidente garantiu que só chegou onde está hoje graças ao "empurrão" dado pelo curso profissionalizante do Senai, que lhe rendeu em sua juventude um emprego e, depois, a liderança sindical no ABC paulista. "Eu duvido que alguém pensou que, de um aluno do Senai, sairia um presidente da República. Todos nós seres humanos precisamos de oportunidades. Ninguém é 100% inteligente ou 100% não inteligente. O nosso potencial é desenvolvido de acordo com o grau de oportunidades que temos na vida", desabafou.