Perfil do consumidor de drogas é cada vez mais jovem no país

23/06/2003 - 13h42

Brasília, 23/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - Especialistas e médicos têm um motivo a mais para se preocupar com os índices de consumo de drogas no Brasil. De acordo com dados da Secretaria Nacional Antidrogas, é cada vez mais jovem o perfil dos usuários: crianças começam a consumir drogas por volta dos 10 anos de idade. Outro dado que assusta especialistas diz respeito ao consumo de bebidas alcoólicas.

Segundo a presidente do Conselho de Entorpecentes do Distrito Federal, Rosilda Oliveira, o índice de jovens que consomem bebida tem aumentado: "Antes, nossa preocupação era com jovens de 16 a 21 anos. Hoje, infelizmente, crianças de 10 anos já bebem", informou.

A preocupação é dividida entre médicos, especialistas, professores e pais. Na Semana Nacional Antidrogas, o 0800 da Secretaria Antidrogas chega a receber cerca de mil ligações por dia. Este número representa mais que o dobro de ligações em dias normais. Na maioria dos casos, são pessoas que pedem publicações sobre o tema ou querem esclarecer dúvidas com os especialistas que participam da semana. Nesses momentos, os organizadores chegam a registrar cerca de 60 ligações.

Dados da Escola Paulista de Medicina mostram que 25% dos jovens brasileiros já experimentaram algum tipo de droga. O problema tem mobilizado setores do governo, como a Secretaria Nacional de Direitos Humanos. O secretário Nilmário Miranda defende medidas inclusive contra as chamadas drogas lícitas com um controle mais rígido sobre a propaganda de bebidas nos meios de comunicação. Para ele, é preciso deixar de associar bebida a comportamentos positivos e sadios, como acontece nas atuais propagandas exibidas na televisão.

Nilmário Miranda explica que somente programas de geração de renda, inclusão social e educação podem contribuir para reduzir o número de usuários. De acordo com a diretora de Prevenção e Tratamento da Secretaria Antidrogas, Paulina Vieira, dados comprovam que o consumo de drogas no Brasil, em comparação com outros países, é relativamente baixo. Contudo, enquanto, nos outros países, o consumo tende a baixar, no Brasil, existe uma tendência de crescimento e precocidade de consumo.

Ao destacar o papel da família no combate às drogas, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, ministro Jorge Armando Félix, destacou o papel da família no combate às drogas, papel que, inclusive, é tema da Semana Antidrogas "Quando a família chega perto, a droga fica longe". De acordo com o ministro, é preciso restaurar o papel da família no combate às drogas e reconhecê-la como uma rede proteção ao uso de drogas,.

Cândida Oliveira entende que a solução para o problema realmente passa pela família, mas acha que é preciso informar antes. "Se a família e a escola forem unidas para informar corretamente, será possível evitar o problema, mas é preciso que estejam preparadas para isso", completa. A opinião é compartilhada por Nilmário Miranda. Segundo o secretário, as famílias precisam vencer o preconceito e buscar informações, "evitar castigar e condenar e procurar saber o nível de compromisso do filho com as drogas. Depois, é preciso buscar especialistas", enfatiza.

O psiquiatra e coordenador do Programa Integrado de Saúde Mental Comunitária, Adalberto Barreto, disse que a família tem se mantido longe do problema das drogas: "o filho se sente um pouco abandonado, e a droga vem a assinalar esse distanciamento. O excesso de liberdade pode representar um certo abandono. A família precisa chegar mais perto", explicou. O especialista fala de um tipo de jovem que preocupa mais: é aquele que não foi educado para, em alguns momentos, se frustrar e tem todos os desejos satisfeitos pelos pais. "Aquele que não suporta a frustração e o próprio sofrimento pode buscar a satisfação nas drogas", afirmou o médico.

A Semana Nacional Antidrogas vai até quinta-feira (26), no Anexo I do Palácio do Planalto. A Secretaria dispõe de um serviço de atendimento à população. O número é 0800-614321. No Distrito Federal, a população pode buscar orientação no Conselho de Entorpecentes pelo telefone (61) 323-7708 ou 323-8729.