Dia de manifestações em Brasília

15/06/2003 - 17h28

Brasília, 15/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - O domingo do brasiliense foi de muito sol e manifestações públicas. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), sindicatos e partidos políticos do Distrito Federal, inclusive facções do PMDB e PSDB, participaram de um ato público no Eixo Rodoviário Sul que reuniu cerca de 1.000 pessoas, segundo avaliação da Polícia Militar, para protestar contra a corrupção e pela ética na política. O ato ocorreu no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa processos movidos contra o governador Joaquim Roriz (PMDB), nas eleições de 2002, por uso da máquina do governo do DF em sua campanha.

Em outra parte da cidade, cerca de 4 mil partidários do governador Roriz participaram da inauguração de uma placa com a réplica do certificado concedido pela Sociedade de Engenheiros da Pensilvânia elegendo a ponte JK, que liga o Plano Piloto ao Lago Sul, como a mais bela do mundo em 2002. E a poucos quilômetros dali, alheio ao embate político local, o pequeno agricultor do Mato Grosso, Donato Welter, continuou sua greve de fome na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto. Seu protesto, iniciado na quinta-feira, é para que autoridades do governo recebam suas denúncias sobre irregularidades praticadas no assentamento de Itanhangá, distante 500 quilômetros de Cuiabá.

No ato público realizado na ponte JK, Joaquim Roriz reagiu as denúncias de abuso do poder econômico que podem levar o TSE a impugnar a sua eleição e a da vice, Maria de Lourdes Abadia (PSDB). Sem citar diretamente o julgamento destas ações, Roriz disse aos presentes que tem "sofrido muito nos últimos meses". E acrescentou: "não há força humana que me faça perder esta batalha". O governador, que chorou em alguns momentos, carregou na emoção para
descrever o momento político vivido. Segundo ele, a vida pública "machuca" os governantes que têm uma relação intensa com a população. "Não há coisa melhor no mundo do que viver com o povo aplaudindo", disse Roriz.

As administrações regionais do DF mobilizaram dezenas de ônibus e vans para o transporte das pessoas que estiveram no ato público, a grande maioria moradores da periferia de Brasília. Francisco Cândido de Souza, funcionário da administração de Taguatinga, disse ter sido questionado por servidores do órgão se poderia levar conhecidos para a recepção ao governador que estaria chegando dos Estados Unidos. Eleitor de Roriz, Francisco Cândido alega que teve um ônibus colocado a sua disposição para o transporte de cerca de 60 amigos e vizinhos.

A ponte JK tem uma história controversa. A polêmica, levantada pela imprensa local, começou com a semelhança de seus arcos com os de uma passarela construída em 1989, no porto de Nagóia (Japão). O responsável pela construção da ponte JK, José Celso Gontijo, rebateu essas críticas com o argumento de que os arcos da obra brasiliense têm função estrutural, ao contrário dos arcos da passarela japonesa, que são decorativos. Por outro lado, também existem denúncias de mergulhadores do DF de que restos de material de construção foram deixados no fundo do lago Paranoá. O secretário de Infra-Estrutura e Obras do DF, David José de Matos, informou que a Via Engenharia, responsável pela obra, já retirou toneladas de lixo do fundo do lago e vai promover uma segunda inspeção para verificar se ainda permanecem restos de material no local.

A ponte JK também esteve presente na manifestação organizada pela CUT, no Eixo Rodoviário Sul. Além de faixas, cartazes e adesivos, os manifestantes carregaram à frente da passeata a maquete da obra feita com caixas de remédios, alusão às denúncias de desvio de recursos da saúde a para a sua construção. Os ministros das Cidades, Olívio Dutra, e da Educação, Cristovam Buarque, participaram do protesto. "Participo como cidadão, morador de Brasília, mas acredito que todo ministro deveria participar de atos contra a corrupção. Existe a história de que ministro não tem coragem de participar de manifestações, porque tem medo de ser achincalhado. Mas qualquer ministro do governo Lula pode vir, mais que isso, tem a obrigação de participar", disse Cristóvam, durante as manifestações na Asa Sul.

Já na Praça dos Três Poderes, o domingo foi tranqüilo. Não haviam petistas nem rorizistas. Apenas um manifestante solitário, o pequeno agricultor do Mato Grosso, Donato Welter, que se mantém com "soro fisiológico e algumas pocãs" desde a última quinta-feira, como forma de protesto para ser recebido por autoridades do governo. Segundo ele, 585 das 1.125 famílias do assentamento Itanhangá perderam suas terras. De acordo com sua versão, as terras foram vendidas pelo sindicato que administra o assentamento. Donato Welter quer a realização, pelo governo, de uma auditoria no projeto Itanhangá.