Brasília, 21/4/2003 (Agência Brasil - ABr) - Para comemorar o 43º aniversário de Brasília, os pioneiros participarão, no dia 25 de abril, de uma seresta no Catetinho, a primeira residência oficial da cidade. O local preserva até hoje móveis e objetos da época da construção da capital federal e, na festa dos pioneiros, receberá duas doações de grande valor histórico: o primeiro médico que veio para a capital federal, o mineiro Ernesto Silva, 88 anos doará a casaca que usou na recepção no Palácio da Alvorada, no dia 21 de abril de 1960. O acervo do museu do Catetinho também será enriquecido com a doação do rádio portátil de pilha que fazia companhia ao médico à noite, depois que as luzes se apagavam. "Sinto muita saudades daquela época. Trabalhávamos muito, mas éramos felizes, porque nos esforçávamos para terminar a cidade dentro do prazo", lembra o pioneiro.
O trabalho intenso da época da construção da cidade também ficou marcado na lembrança da professora mineira Maria Aparecida Cardoso, 72 anos, que se mudou para Brasília com o marido fazendeiro e quatro filhos, em fevereiro de 1959. O quinto filho do casal viria a nascer na nova cidade. "A gente veio para ver se mudava de vida. Assim como eu e meu marido, a maioria dos pioneiros deixou tudo para trás em busca de trabalho na construção da capital", diz Dona Aparecida. Enquanto o marido trabalhava na Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), a mineira se dedicava a dar aulas para os filhos dos pioneiros. De acordo com ela, Brasília era um imenso canteiro de obras e até mesmo as atividades usuais, como ir ao mercado, eram complicadas na época. "A gente ia fazer compra bem longe, na Cidade Livre, que hoje é o Núcleo Bandeirante, no jipe da Novacap", lembra.
As recordações da época estão eternizadas nas fotos que a aposentada guarda com tanto cuidado. Uma especial é a que traz os filhos em cima de pedras na frente do Congresso Nacional em construção. Outra lembrança que restou é a própria casa de Dona Aparecida, localizada na Vila Planalto, local que surgiu apartir da instalação de acampamentos das construtoras nas imediações das obras do Palácio da Alvorada, Eixo Monumental leste e Praça dos Três Poderes. Ao contrário de muitos moradores da Vila, ela faz questão de manter a casa original: de acordo com o padrão da época, as residências eram feitas de madeira, o que requer cuidados para a conservação da estrutura, especialmente por causa dos cupins.
Uma das poucas mudanças feitas que a professora fez em sua casa foi substituir as janelas de madeira por outras mais resistentes. "Ainda pretendo pintar a casa e tirar uma foto bem bonita, para que, quando eu não estiver mais aqui, meus netos e bisnetos tenham essa lembrança", planeja Dona Parecida, que considera ter uma verdadeira história de amor com a cidade. "Não troco Brasília por nenhum lugar. Quem acostuma viver aqui, não se adapta a outro local, porque a qualidade de vida é muito diferente", observa.
Outro pioneiro que não abre mão de viver na capital do país é Enio Ribeiro de Almeida, 83 anos, que desde 1959 mora na Vila Planalto. Mineiro de Uberaba, Almeida começou a trabalhar como fiscal da Novacap pouco depois de chegar a Brasília. "Trabalhei muito e me orgulho de ter participado daquele momento histórico e principalmente de estar presente na festa da inauguração, que foi emocionante", conta. Para ele, um dos momentos mais marcantes ocorreu no dia da inauguração da capital. "À meia noite, o Papa transmitiu a bênção para Brasília, Juscelino estava perto da Estátua da Justiça e começou a chorar quando começou a tocar um sino. Eu estava pertinho dele, e não entendi aquilo, mas depois vim saber que o sino foi o mesmo que bateu quando enforcaram Tiradentes", lembrou o pioneiro, sem conseguir conter as lágrimas.