Ernesto Silva fala sobre desapropriação de terras no DF

21/04/2003 - 12h39

Brasília, 21/4/2003 (Agência Brasil - ABr) - O médico Ernesto Silva, um dos mais antigos pioneiros de Brasília acha que os problemas que o Distrito Federal hoje enfrenta com a grilagem de terras, a formação de condomínios que clamam por regularização e a expansão desordenada da área urbana, de um modo geral, só pode ser resolvida por medidas que superem um erro cometido nos primórdios da inauguração da cidade: a interrupção do processo de desapropriação das terras, que deveria continuar acontecendo durante 5 anos, depois que o governo de Goiás aprovou decreto declarando a área do DF de utilidade pública para efeito social. Dessa forma, os administradores da capital poderiam ter feito um planejamento ordenado para a ocupação do solo, sem embaraços jurídicos com os proprietários que não foram indenizados. Por isso mesmo, eles passaram a vender ou lotear partes de suas terras, advindo daí a grilagem, a má fé e a picaretagem.

Ernesto Silva deu entrevista ao programa Revista Brasil, da Radio Nacional AM e criticou o desvirtuameto do plano original da cidade, referindo-se a projeto aprovado pela Câmara Legislativa que permite a construção de sétimo andar nas quadras que tinham previstos no máximo seis pavimentos. Ele acha que a quebra da uniformidade abre precedente que vai passo a passo desvirtuando a feição original da cidade. Outro ponto que condena é o desvirtuamento da destinação dos terrenos de escolas, clubes de unidade de vizinhança e outros.

O médico acha que a melhor solução para reduzir o tráfego que se verifica nas horas de pico, principalmente, no centro de Brasília, é que os habitantes das cidades satélites passem a trabalhar próximo de suas casas. Ele opina que os governos locais têm que pensar nisso como uma solução, para que a Capital Federal não tenha agravado o caos do trânsito, como se verifica nas grandes cidades e que também é preocupante aqui.

A preservação da memória também merece crítica de Ernesto Silva. Lembra que o Núcleo Bandeirante deveria ter sido poupado nas suas características de primeiro bairro da capital. Lá não há hoje uma única pedra que lembre a época do pioneirismo, acentua. Também, as figuras históricas que marcam a origem da cidade, como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, deveriam ter um monumento, lembrando sua obra. Isso não significaria homenagem de ordem pessoal a cada um, mas a preservação desses nomes que simbolizam a própria concepção da nova capital, lembra Ernesto Silva.

O pioneiro acha que há má vontade na preservação da memória da capital, principalmente por aqueles que aqui chegaram mais tarde. "É como se tivessem inveja de alguma coisa", avalia. A construção de Brasília para Ernesto Silva foi uma mostra de como se pode fazer muito em pouco tempo e, edificar uma obra de arte, que já era prevista durante o Império, e que propiciou boa qualidade de vida à população. Isso, para o pioneiro, justificou a despesa com a construção, ao contrário do que pensavam os críticos da idéia da mudança da capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central.

Segundo Ernesto Silva, Juscelino Kubitschek não se abalava com a oposição e procurava estimular os pioneiros,que trabalhavam em meio ao desconforto a persistirem. Eles correspondiam, satisfeitos por saberem que estavam construindo uma obra que era um sonho.