Lula e Schröder só concordam com a guerra contra o Iraque com a anuência da ONU

27/01/2003 - 19h53

Berlim, 27/1/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Alemanha, Gerhard Schröder, defenderam hoje com veemência, em entrevista após jantarem na sede da Chancelaria Federal alemã, que a decisão final sobre um eventual ataque dos Estados Unidos ao Iraque seja exclusivamente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Eles também pediram mais tempo para que seja anunciada tal posição, pelo menos até que os inspetores do organismo concluam o trabalho de investigação sobre estoques de armamento nuclear e biológico existentes no Iraque.

Segundo Lula, o posicionamento da ONU servirá como referência para a tomada de posição do Brasil a respeito do conflito. "Reconheço o sofrimento do povo americano depois do atentado de 11 de setembro, mas acho extremamente prudente que a ONU dê a orientação do que vai acontecer. E as investigações devem ser feitas até o resultado final", afirmou o presidente brasileiro. Mantendo a mesma linha de Lula, Gerhard Schröder pediu ainda que o Iraque cumpra a resolução 441 do Conselho de Segurança, que determina que o governo de Saddam Hussein apresente aos inspetores da ONU todo seu arsenal bélico.

Ao ser indagado sobre as medidas práticas que Alemanha e Brasil adotariam caso os Estados Unidos invadam o Iraque sem a anuência da ONU, Lula respondeu com um ditado popular: "No Brasil tem um ditado, que serve a mim como referência. Tem determinadas respostas que um bom político pensa para responder e outros, que são melhores, pensam e não respondem". Já o chefe do Governo alemão afirmou não temer uma eventual retaliação dos norte-americanos pelo fato de não apoiarem a guerra de forma unilateral: "Sou insensível quanto às pressões".

Lula aproveitou a entrevista para pedir a compreensão dos países europeus e dos Estados Unidos para suspender as barreiras impostas às exportações de produtos do Brasil e nos demais países que integram o Mercado Comum do Sul (Mercosul), que são a Argentina, Uruguai e Paraguai. "Para que o Mercosul se consolide como bloco é necessária a compreensão dos países ricos de que o protecionismo deve acabar", afirmou.

Lula salientou que o Brasil vai continuar fazendo gestões com "os amigos" europeus e americanos para suspender as barreiras econômicas, que dificultam o livre comércio entre as nações: "Ou nós falamos de livre mercado e de livre comércio, ou acreditamos de verdade nisso, ou não o praticamos". O chefe do Governo alemão se comprometeu em fazer junções junto aos seus sócios da União Européia (UE), principalmente junto à França, país que mais impõe barreiras alfandegárias ao Mercosul.

Lula e Schröder também foram unânimes em reivindicar um redesenho do Conselho de Segurança da ONU, integrado por cinco membros com cadeira cativa (Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Rússia), que possuem poder de veto, e com os demais dez assentos divididos de forma rotativa pelos outras nações do mundo, as quais não influem muito nas decisões. Ambos os países reivindicam - e se apóiam reciprocamente - a ampliação das vagas e são candidatos natos a ocupá-las devido à situação de suas economias e à expressão política que possuem na Europa e no continente americano.

Schröder também elogiou o Brasil pelo esforço que está promovendo no sentido de fazer as reformas e, ainda, pelo espírito democrático que marcou a transição de governos entre Fernando Henrique Cardoso e Lula. De acordo com ele, a Alemanha acompanhou com "grande respeito" a transição política brasileira. Ele e Lula destacaram ainda os laços de amizade existentes entre os dois países. O presidente brasileiro lembrou, por exemplo, a colonização alemã nos estados do Sul do Brasil, "os mais desenvolvidos do país", em sua avaliação.

Lula disse ainda, ao elogiar a hospitalidade de Schröder, que escolheu a Alemanha para marcar sua primeira viagem de trabalho fora da América do Sul devido a relação "muito forte" que possui com o movimento sindical alemão e com o Partido Social-Democrata (SPD), o mesmo do primeiro-ministro. Ele relembrou ainda outra razão: a de que os maiores investimentos da Alemanha fora do país estão concentrados no Brasil, o que confere uma parceria privilegiada nos sentidos político, comercial e cultural.