Porto Alegre, 27/1/2003 (Agência Brasil - ABr) - A ativista pela paz e escritora indiana Arundhati Roy, acusou, hoje, em sua palestra no 3° Fórum Social Mundial, o primeiro-ministro da Índia, de desprezo pela morte de centenas de mulçumanos que vivem no norte do país, ocorrida recentemente em conflitos religiosos. Pelo menos 10 milhões de mulçumanos vivem na Índia e os conflitos com hindus têm se intensificado depois da guerra do Afeganistão.
Segundo Arundhati, no mesmo dia em que ocorreram os conflitos mais tensos e graves, o primeiro-ministro Sri Atal Bihari Vajpayee, mostrava em um programa televisivo sua obra poética. Arundhati disse estar testemunhando o desmantelamento da democracia na Índia. "Se fosse o Saddam Hussein a cometer essas atrocidades, certamente seria mostrado ao vivo pela CNN", ironizou.
Participante da conferência sobre como enfrentar o imperialismo, que completou a capacidade do ginásio Gigantinho (15 mil), Arundhati definiu o império como a distância entre os que tomam as decisões e o que são afetados por essas decisões. "A globalização é só dos serviços, mas não do respeito aos direitos humanos, nem dos tratados sobre discriminação racial, nem dos tratados sobre armas químicas e nucleares, nem sobre o fim das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Tudo isso é o império. É uma acumulação obscena de poder", disse.
Otimista, Arundhati registrou o que considera vitórias. "Temos vitória da resistência em Cochabamba, do levante em Arequipa no Peru, e também na resistência do presidente Hugo Chávez que está se mantendo, apesar da crise. A Argentina também está dando sua lição se levantando das cinzas em que se tornou por causa do Fundo Monetário Internacional (FMI). E, naturalmente, poderíamos perguntar quem era o presidente do Brasil no ano passado e quem é agora, não é mesmo?", perguntou arrancando aplausos da platéia.
Contrária à guerra do Iraque, Arundhati enfatizou que o presidente Saddam Hussein, de fato, é um ditador e assassino, mas rejeitou o argumento norte-americano de que quer salvar a democracia com a guerra. "Matar as pessoas para salvá-las da ditadura é um antigo esporte do governo americano, aqui na América Latina vocês sabem disso mais que a maioria das pessoas", ironizou uma vez mais.
Para ela, o mundo estaria muito melhor sem Bush, mas a melhor estratégia não será atuar como ele, explodindo a Casa Branca, talvez. "Não devemos enfrentar o império, mas sitiá-lo com nossa arte, literatura e teimosia. O corporativismo vai entrar em colapso se nos recusarmos a comprar o que vendem, porque nós somos muitos e eles são poucos. Precisam mais de nós, que nós deles", alertou. Arundhati terminou sua conferência, inflamando a platéia, embora falasse calmamente. "Digo a vocês, um outro mundo não só é possível, como está a caminho. Num dia calmo, se ouvirem com atenção, vocês poderão ouvir a respiração de um outro mundo", concluiu.