Brasília, 5/12/2002 (Agência Brasil - ABr) - Foi encerrado hoje, no auditório Dois Candangos da Universidade de Brasília, o seminário "Quilombos no Brasil – Terra, Cultura, Educação e Sustentabilidade". Iniciado ontem, o encontro teve apoio da UnB, Fundação Palmares, do Banco Mundial e de diversas universidades e instituições não governamentais. Foram abordados diversos aspectos jurídicos e culturais dos quilombos, comunidades descendentes de escravos fugidos. Em muitos dos quilombos, também chamados de mocambos, foi desenvolvida uma cultura popular muito própria. Em alguns surgiram variantes do português que são quase dialetos separados.
Um levantamento prévio aponta a existência de 848 quilombos, distribuídos em todos os estados. Mas há indicações de mais de mil comunidades quilombolas. "Essas populações são um registro vivo de nossa história e da resistência negra à escravidão", declara o vice-reitor da UnB, Timothy Mulholland. Ele afirma que o seminário, além da função de conscientizar, é importante para acabar com mitos como o de que as comunidades quilombolas são sempre distantes e isoladas, "muitas delas estão bem próximas de grandes centros urbanos, e começam a perder suas características".
Para o presidente da Fundação Palmares, Carlos Moura, o seminário cumpriu seus objetivos. "Tivemos várias discussões importantes sobre a demarcação e titulação de terras quilombolas e sobre suas manifestações culturais. Esses dois fatores são muito ligados. Para preservar um é essencial manter o outro", afirma. O processo da demarcação começou em 1995, mas já estava previsto na Constituição Federal de 1998.
"O artigo 68 das Disposições Transitórias da Constituição previa essa demarcação", lembra o advogado José Roberto Camargo, membro do Conselho Nacional de Combate à Discriminação, ligado ao Ministério da Justiça. Ele participou do seminário e afirmou que todos os movimentos negros atuais têm suas raízes na resistência dos quilombos.
Um legitimo descendente de escravos fugitivos, Seu Teodoro, coordenador de um grupo tradicional de Bumba-Meu-Boi, de Sobradinho (DF), é natural do Maranhão, um dos estados com maior número de quilombos. "Nunca estive num quilombo, mas eles são importantes para a comunidade negra aprender a lutar pelo seu espaço de direito na sociedade brasileira", completa Seu Teodoro.