Fenacordel https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/174109/all pt-br Festival Nacional do Cordel encanta o público paulistano https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2013-09-15/festival-nacional-do-cordel-encanta-publico-paulistano <p>Fernanda Cruz<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> S&atilde;o Paulo &ndash; Chapeuzinho Vermelho quer casar. O pretendente precisa ser negro, jamaicano e gostar de ler cordel. No fim da hist&oacute;ria, Chapeuzinho ganha uma festa de casamento de arromba. Com um sorriso no rosto, a poeta cordelista Cleusa Santo descreve essa e outras hist&oacute;rias divertidas que escreve para crian&ccedil;as, como o cordel <em>Uma Formiga em Hollywood</em>. Paulista, nascida em Tarum&atilde;, Cleusa &eacute; raridade entre os escritores desse tipo de literatura, justamente por ser mulher e n&atilde;o ter nascido no Nordeste.</p> <p> Cleusa e outros autores conversaram com o p&uacute;blico neste fim semana, durante o Festival Nacional do Cordel e da Cultura Popular (Fenacordel), que ocorreu no Memorial da Am&eacute;rica Latina, na capital paulista. O evento foi promovido pelo Instituto Leandro Gomes de Barros, institui&ccedil;&atilde;o sem fins lucrativos destinada &agrave; promo&ccedil;&atilde;o da literatura do cordel. Segundo os organizadores, passaram pelo festival cerca de 3 mil pessoas.</p> <p> Isildinha Nascimento, professora h&aacute; 25 anos, tem um pequeno acervo de cord&eacute;is em casa e aproveitou para aument&aacute;-lo durante o festival. Formada em artes, ela leciona para crian&ccedil;as entre 8 e 9 anos e tamb&eacute;m para alunos da educa&ccedil;&atilde;o de jovens e adultos (EJA), na cidade de Mogi das Cruzes, na Grande S&atilde;o Paulo.</p> <p> Isildinha conta que gosta de levar a literatura do cordel para as suas aulas. &ldquo;Nas salas do EJA, geralmente, tem muitos nordestinos. Ent&atilde;o, eles se encontram nessa literatura&rdquo;, disse. Ela aproveitou o evento para conversar com um de seus autores favoritos, Varneci Nascimento. &ldquo;Eu j&aacute; tenho, de alguns anos, uma fascina&ccedil;&atilde;o por cordel. Ent&atilde;o, onde tem algum evento eu procuro estar. Hoje vim na inten&ccedil;&atilde;o de encontrar o cordelista Varneci&rdquo;, disse ela.</p> <p> Nascido em Banza&ecirc;, interior da Bahia, o cordelista Varneci Nascimento &eacute; conhecido pelas hist&oacute;rias engra&ccedil;adas, como o seu campe&atilde;o de vendas, <em>Dez Mandamentos do Pregui&ccedil;oso em Cordel</em>, com 10 mil exemplares vendidos. &ldquo;Uma das veias que eu gosto muito de trabalhar &eacute; o humor. Eu acho que as pessoas precisam sorrir. O povo anda muito azedo, as pessoas est&atilde;o fechadas, carrancudas. E na cidade grande isso &eacute; ainda pior&rdquo;, disse ele.</p> <p> Ele explica que as suas inspira&ccedil;&otilde;es v&ecirc;m de cenas do cotidiano paulistano. Essas hist&oacute;rias, conta, j&aacute; renderam 67 livros publicados e mais de 200 escritos. Mas, apesar do grande volume de cord&eacute;is j&aacute; escritos, Nascimento defende que escrever esse tipo de literatura n&atilde;o &eacute; tarefa f&aacute;cil.</p> <p> &ldquo;Muita gente acha que o cordel &eacute; uma coisa simples, f&aacute;cil, e n&atilde;o &eacute;. Deve ser dif&iacute;cil de fazer, mas f&aacute;cil de entender. Cordel &eacute; matem&aacute;tico, porque ele tem as regras, por exemplo, uma sextilha tem seis versos, ele tem m&eacute;trica, que &eacute; uma medida, cada verso tem sete s&iacute;labas po&eacute;ticas, e tem o jeito de contar essas s&iacute;labas. Ent&atilde;o, &eacute; preciso que voc&ecirc; domine essa t&eacute;cnica para que voc&ecirc; fa&ccedil;a bem o seu cordel e que consiga conquistar os seus leitores&rdquo;, disse.</p> <p> O poeta cordelista Jo&atilde;o Gomes de S&aacute; dedica-se &agrave; literatura h&aacute; 30 anos. Na Universidade Federal do Alagoas, ele estudou a t&eacute;cnica do texto. &ldquo;O cordel &eacute; uma literatura toda rimada, em versos, metrificada. Existe uma t&eacute;cnica pr&oacute;pria&rdquo;, explicou.</p> <p> S&aacute; destacou, al&eacute;m disso, outras formas da arte nordestina presentes no festival, como a xilogravura. &ldquo;&Eacute; uma arte que tem um di&aacute;logo com o cordel, mas n&atilde;o necessariamente est&atilde;o ligadao. Houve uma &eacute;poca em que se usava a xilogravura para ilustrar as capas dos folhetos. Eu digo que a arte mais pr&oacute;xima do cordel &eacute; a xilogravura&rdquo;, disse.</p> <p> Havia, no festival, v&aacute;rios repentistas se apresentaram, como a dupla Ad&atilde;o Fernandes e Jo&atilde;o Dot&ocirc;. Ad&atilde;o, que nasceu em Iguatu, no sert&atilde;o do Cear&aacute;, conta que o repentista j&aacute; nasce repentista. &ldquo;O repente &eacute; uma express&atilde;o criada dentro de cada um de n&oacute;s, que faz fluir um sentimento, que est&aacute; guardado dentro da gente. Voc&ecirc; oculta a sua tristeza para levar alegria para algu&eacute;m.&rdquo;</p> <p> Ele destacou a proximidade da arte que produz com a literatura do cordel. &ldquo;O cordel e o repente s&atilde;o irm&atilde;os. Como existe, entre irm&atilde;os, um que segue a medicina, outro quer advocacia, o outro parte para a constru&ccedil;&atilde;o civil. &Eacute; completamente diferente, mas com a mesma proposta de trabalho.&rdquo;</p> <p> Para ele, o repente &eacute; apenas uma das muitas riquezas ocultas no pa&iacute;s. &ldquo;A cultura do Nordeste &eacute; a &uacute;nica cultura tradicionalmente brasileira, sem miscigena&ccedil;&atilde;o. O repente, por exemplo, o cordel, o embolador de coco, o vaqueiro, aboiador de pra&ccedil;a e o forr&oacute; antigo com zabumba, tri&acirc;ngulo e pandeiro, tudo isso &eacute; tradi&ccedil;&atilde;o do Nordeste&rdquo;, destacou.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Juliana Andrade</em></p> <p><em>Todo o conte&uacute;do deste site est&aacute; publicado sob a Licen&ccedil;a Creative Commons Atribui&ccedil;&atilde;o 3.0 Brasil. Para reproduzir o material &eacute; necess&aacute;rio apenas dar cr&eacute;dito &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong></em><br /> &nbsp;</p> Cordel Cultura Fenacordel Festival Nacional do Cordel e da Cultura Popular lieratura literatura de cordel Memorial da América Latina música Nordeste poesia são paulo Sun, 15 Sep 2013 20:54:41 +0000 julianas 730731 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/