ações coletivas https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/170788/all pt-br Crise econômica mostra que justiça social continua a ser valor fundamental, diz sociólogo https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2013-08-11/crise-economica-mostra-que-justica-social-continua-ser-valor-fundamental-diz-sociologo <p> Gilberto Costa<br /> <em>Correspondente da Ag&ecirc;ncia Brasil / EBC</em></p> <p> Lisboa &ndash; O livro <a href="http://www.mundossociais.com/livro/desigualdades-sociais-e-praticas-de-acao-coletiva-na-europa/60" target="_blank"><em>Desigualdades Sociais e Pr&aacute;ticas de A&ccedil;&atilde;o Coletiva na Europa</em></a>, recentemente lan&ccedil;ado em Portugal, faz liga&ccedil;&atilde;o entre o desenvolvimento socioecon&ocirc;mico e institucional dos pa&iacute;ses europeus, a qualidade de vida da popula&ccedil;&atilde;o e a mobiliza&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica da sociedade.</p> <p> O autor da publica&ccedil;&atilde;o, <a href="http://www.cies.iscte.pt/investigadores/ficha.jsp?pkid=363" target="_blank">Nuno Nunes</a>, pesquisador do Centro de Investiga&ccedil;&atilde;o e Estudos de Sociologia do Instituto Universit&aacute;rio de Lisboa, tamb&eacute;m avalia o acesso a recursos materiais e culturais, e as rela&ccedil;&otilde;es de classe e de g&ecirc;nero para revelar que na Europa &ldquo;&agrave;s desigualdades sociais equivalem distanciamentos e desigualdades pol&iacute;ticas&rdquo;.</p> <p> As desigualdades sociais tendem a aumentar com a atual crise econ&ocirc;mica global, que afeta especialmente o sul da Europa. A seguir entrevista do cientista social concedida &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong>.</p> <p> <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong> &ndash; De acordo com seu livro, os pa&iacute;ses mais desenvolvidos (do Norte da Europa) s&atilde;o os mais avan&ccedil;ados em a&ccedil;&atilde;o coletiva. H&aacute; rela&ccedil;&atilde;o de causa e efeito nisso? Qual &eacute; a causa?<br /> <strong>Nuno Nunes</strong> &ndash; As raz&otilde;es para os pa&iacute;ses do Norte da Europa revelarem maior ades&atilde;o a pr&aacute;ticas de a&ccedil;&atilde;o coletiva, comparando com outros pa&iacute;ses e regi&otilde;es na Europa, devem-se aos seus n&iacute;veis de confian&ccedil;a interpessoal e institucional, de desenvolvimento humano, menor desigualdade de g&ecirc;nero e escolariza&ccedil;&atilde;o elevada. Na esfera do trabalho, dimens&atilde;o central para compreender a a&ccedil;&atilde;o coletiva, os cidad&atilde;os da Europa do Norte s&atilde;o mais sindicalizados e sentem-se menos prec&aacute;rios. As classes sociais sentem-se mais pr&oacute;ximas da pol&iacute;tica.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Das desigualdades nos pa&iacute;ses da Europa analisadas no seu livro, qual considera mais importante?<br /> <strong>Nuno Nunes</strong> &ndash; As desigualdades sociais s&atilde;o multidimensionais nas suas causas e efeitos, acabando todas as suas manifesta&ccedil;&otilde;es por condicionarem fortemente a cidadania. As desigualdades de classes, as desigualdades de g&ecirc;nero, as desigualdades econ&ocirc;micas e de rendimento, as desigualdades de desenvolvimento humano, a nova desigualdade digital, os mecanismos condicionadores da democracia nos locais de trabalho e no espa&ccedil;o p&uacute;blico da pol&iacute;tica, s&atilde;o fatores integrados que concorrem para uma menor a&ccedil;&atilde;o coletiva.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Os dados secund&aacute;rios analisados s&atilde;o at&eacute; 2008. Depois disso, a crise econ&ocirc;mica se instalou na Europa. A crise afeta a a&ccedil;&atilde;o coletiva?<br /> <strong>Nuno Nunes</strong> &ndash; A crise econ&ocirc;mica est&aacute; reconfigurando as din&acirc;micas da a&ccedil;&atilde;o coletiva na Europa. A evolu&ccedil;&atilde;o da situa&ccedil;&atilde;o econ&ocirc;mica, pol&iacute;tica e social e os respetivos posicionamentos das organiza&ccedil;&otilde;es, governos e institui&ccedil;&otilde;es nacionais e supranacionais, provocaram respostas diferenciadas de pa&iacute;s para pa&iacute;s, mas que, no essencial, fizeram reemergir a import&acirc;ncia da mobiliza&ccedil;&atilde;o social enquanto instrumento democr&aacute;tico ao dispor dos cidad&atilde;os e das suas institui&ccedil;&otilde;es e organiza&ccedil;&otilde;es representativas. A crise econ&ocirc;mica tamb&eacute;m acabou por revelar que a matriz filos&oacute;fico-social da igualdade e da justi&ccedil;a social continuam a ser valores fundamentais das sociedades contempor&acirc;neas.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; O senhor avalia que depois de 2008, a desigualdade aumentou na Europa? E a pobreza?<br /> <strong>Nuno Nunes</strong> &ndash; Os relat&oacute;rios internacionais indicam um aumento das desigualdades de rendimento na Europa. S&atilde;o sobretudo importantes os mais recentes relat&oacute;rios da OCDE [Organiza&ccedil;&atilde;o para a Coopera&ccedil;&atilde;o e Desenvolvimento Econ&ocirc;mico] bem como o <em>Relat&oacute;rio do Desenvolvimento Humano de 2013</em> [da Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas] &ndash; que constitui um precioso instrumento para avaliarmos a desigualdade social no mundo. Atualmente, 120 milh&otilde;es de europeus est&atilde;o em risco de pobreza ou de exclus&atilde;o social, 50 milh&otilde;es vivem em agregados dom&eacute;sticos onde ningu&eacute;m trabalha e 40 milh&otilde;es de pessoas sofrem de severas priva&ccedil;&otilde;es materiais.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Portugal nos &uacute;ltimos anos fez quatro greves gerais e em algum momento levou mais de um milh&atilde;o de pessoas para protestar nas ruas. Isso fez o governo recuar em medidas de austeridade e aumento de tributa&ccedil;&atilde;o. Considera que o seu pa&iacute;s tem se mobilizado dentro da classifica&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&atilde;o coletiva que fez no livro?<br /> <strong>Nuno Nunes</strong> &ndash; A investiga&ccedil;&atilde;o sociol&oacute;gica que culminou no livro desenvolveu sobretudo uma an&aacute;lise estrutural e cultural da a&ccedil;&atilde;o coletiva &agrave; escala europeia, comparando os diferentes pa&iacute;ses mas, simultaneamente, observando um conjunto de regularidades sociol&oacute;gicas que caracterizam o espa&ccedil;o europeu como um todo. A atual a&ccedil;&atilde;o coletiva na sociedade portuguesa resiste perante a elevada desigualdade social, a heran&ccedil;a duradoura dos menores recursos educativos e a reduzida confian&ccedil;a que os cidad&atilde;os depositam uns nos outros e nas suas institui&ccedil;&otilde;es.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Como o senhor v&ecirc; as mobiliza&ccedil;&otilde;es que ocorrem no Brasil, um dos pa&iacute;ses mais desiguais do mundo?<br /> <strong>Nuno Nunes</strong> &ndash; A informa&ccedil;&atilde;o que recebi n&atilde;o &eacute; suficiente para que possa contribuir para a clarifica&ccedil;&atilde;o sociol&oacute;gica sobre as recentes mobiliza&ccedil;&otilde;es verificadas no Brasil. Mas ao longo da hist&oacute;ria da humanidade diversos foram os meios encontrados pelas sociedades para superarem as suas desigualdades sociais, ocupando a a&ccedil;&atilde;o coletiva um lugar de destaque no ensejo por novas conquistas sociais. Os recentes acontecimentos no Brasil decorrem da sua atual fase de desenvolvimento, perante desafios que hoje s&atilde;o simultaneamente globais, regionais e locais. Tais desafios de desenvolvimento confrontam-se perante desigualdades de classes sobre as quais o Estado e as suas pol&iacute;ticas p&uacute;blicas podem ou n&atilde;o se revelarem eficazes.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Denise Griesinger<br /> Todo o conte&uacute;do deste site est&aacute; publicado sob a Licen&ccedil;a Creative Commons Atribui&ccedil;&atilde;o 3.0 Brasil. Para reproduzir a mat&eacute;ria, &eacute; necess&aacute;rio apenas dar cr&eacute;dito &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong></em></p> ações coletivas Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa desigualdades sociais Europa Internacional Sun, 11 Aug 2013 16:21:44 +0000 deniseg 727782 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/