Alto Paraíso https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/168875/all pt-br Em demonstração de fé, kalungas fazem Hasteamento do Mastro do Divino Espírito Santo https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2013-07-23/em-demonstracao-de-fe-kalungas-fazem-hasteamento-do-mastro-do-divino-espirito-santo <p>Pedro Moreira<br /> <em>Enviado Especial da EBC</em></p> <p> <img alt="" src="https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/imagecache/300x225/gallery_assist/27/gallery_assist726240/prev/ABr200713MCA_4382.jpg" style="margin: 3px; width: 300px; float: right; height: 225px" />S&atilde;o Jorge (GO) - A Lua quase cheia j&aacute; brilhava no c&eacute;u do pequeno povoado de S&atilde;o Jorge, a 35 quil&ocirc;metros da cidade de Alto Para&iacute;so de Goi&aacute;s, quando come&ccedil;aram os primeiros batuques na caixa &ndash; tambor tradicional dos kalungas. O maior grupo de quilombolas do pa&iacute;s, que vive espalhado em dezenas de comunidades goianas, come&ccedil;ava a apresentar um dos seus mais importantes rituais religiosos.</p> <p> Subindo uma das ruazinhas de terra, o grupo de cerca de 50 kalungas parou diante da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge. Na parte de dentro, eles se espremeram diante do pequeno altar montado em homenagem ao santo da Capad&oacute;cia. Diante das imagens de santos cat&oacute;licos e oxir&aacute;s da Umbanda, foram entoados os cantos e rezas tradicionais desses descendentes de escravos. L&aacute; fora, roj&otilde;es e fogos de artif&iacute;cio chamavam o povo para o in&iacute;cio dos festejos.</p> <p> De volta &agrave; rua, os kalungas receberam a companhia dos curiosos e dos turistas que lotam a regi&atilde;o nesta &eacute;poca de f&eacute;rias. Para participar do cortejo, todos puderam pegar uma das candeias (tipo de vela feita com um pavio grosso e escuro). A chama queima forte, alimentada pela cera de arati (esp&eacute;cie de abelha), e at&eacute; hoje ilumina muitas casas nas comunidades isoladas. No meio da rua de terra, o mastro de madeira foi fincado em um buraco no ch&atilde;o. Ao som dos batuques e da cantoria, o mastro &eacute; erguido e, na ponta dele, sobe um estandarte representando o Divino Esp&iacute;rito Santo.</p> <p> <img alt="" src="https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/imagecache/300x225/gallery_assist/27/gallery_assist726240/prev/ABr200713MCA_5552.jpg" style="margin: 3px; width: 300px; float: left; height: 225px" />O c&eacute;u se ilumina com fogos vermelhos, acompanhados de gritos de comemora&ccedil;&atilde;o. A m&uacute;sica fica mais intensa, com o som de pandeiros, violas e sanfonas. As mulheres com saias rodadas, de tecido fino, come&ccedil;aram a dan&ccedil;ar a Sussa no p&eacute; do mastro. Os p&eacute;s descal&ccedil;os eram &aacute;geis nas pisadas e giros de corpo. As m&atilde;os, hora seguravam as pontas das saias, hora se agitavam ao redor da cintura.</p> <p> A intensidade da dan&ccedil;a t&iacute;pica dos kalungas ficava evidente no suor que brotava nos rostos alegres, de sorriso largo, mesmo com o friozinho da Chapada come&ccedil;ando a cair. A Sussa tem origens africanas. Para os antepassados, era um agradecimento pela fartura na lavoura. Preservada pelo isolamento dos kalungas, hoje celebra a alegria desse povo.</p> <p> Todo o simbolismo da cerim&ocirc;nia de Hasteamento do Mastro do Divino Esp&iacute;rito Santo e o vigor da Sussa s&atilde;o algumas das manifesta&ccedil;&otilde;es que podem ser conferidas at&eacute; o pr&oacute;ximo s&aacute;bado no 13&ordm; Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. Organizado pela Casa de Cultura Cavaleiro de S&atilde;o Jorge, o festival vem ajudando a manter vivas as tradi&ccedil;&otilde;es dos primeiros povos a habitar a regi&atilde;o, hoje conhecida pelas belezas naturais.</p> <p> Natalina dos Santos Rosa, mais conhecida como Dona Dainda, &eacute; uma respeitada lideran&ccedil;a do povo Kalunga de V&atilde;o das Almas, no munic&iacute;pio vizinho de Cavalcante. Ela se orgulha em comandar a cerim&ocirc;nia de Hasteamento do Mastro. &quot;Ah, eu acho &oacute;timo. Acho muito bom, porque antigamente n&atilde;o sab&iacute;amos se isso era um valor. &Agrave;s vezes, eu falo para os meninos, que h&aacute; algum tempo, n&oacute;s dan&ccedil;&aacute;vamos para n&oacute;s mesmos. Hoje, outras pessoas j&aacute; se interessam de ver nossa dan&ccedil;a, cultura nossa. Para mim, &eacute; uma honra, mostrar a tradi&ccedil;&atilde;o que meus pais tinham&quot;, conta ela.</p> <p> A programa&ccedil;&atilde;o do Encontro de Culturas inclui, ainda, apresenta&ccedil;&otilde;es de teatro, m&uacute;sica e dan&ccedil;a, conta&ccedil;&atilde;o de hist&oacute;rias, oficinas e exibi&ccedil;&atilde;o de filmes. <img alt="" src="https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/imagecache/300x225/gallery_assist/27/gallery_assist726240/prev/ABr190713MCA_2967.jpg" style="margin: 3px; width: 300px; float: right; height: 225px" />A mostra de cinema <em>Centro&eacute;cine</em> leva a s&eacute;tima arte para o meio da rua. Uma tela montada num caminh&atilde;o exibe mais de 20 curta e longas-metragens. As produ&ccedil;&otilde;es s&atilde;o do Centro-Oeste do pa&iacute;s, mas este ano, um espa&ccedil;o da programa&ccedil;&atilde;o &eacute; dedicado ao cinema de Pernambuco.</p> <p> Nas cadeiras de pl&aacute;stico enfileiradas sobre o ch&atilde;o poeirento, est&atilde;o fam&iacute;lias inteiras de turistas e, tamb&eacute;m, os moradores locais. A aposentada Benedita Alvelino do Nascimento diz que nunca foi a um cinema de verdade. A primeira vez que assistiu a um filme na telona foi na edi&ccedil;&atilde;o do ano passado da mostra. E gostou da experi&ecirc;ncia. &quot;Eu nunca fui n&atilde;o, porque a gente mora aqui, n&atilde;o sai daqui, ent&atilde;o eu achei muito boa essa ideia. Eu acho que &eacute; um divertimento. Porque aqui a gente n&atilde;o tem divertimento nenhum.&quot;</p> <p> O Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros vai at&eacute; domingo (28), na Vila de S&atilde;o Jorge, distrito da cidade de Alto Para&iacute;so de Goi&aacute;s. Durante toda a semana, o palco principal montado na vila recebe artistas regionais. Hoje (23), a principal atra&ccedil;&atilde;o &eacute; o cantor pernambucano Lenine. As atividades e manifesta&ccedil;&otilde;es culturais se dividem por alguns pontos do povoado. Na sexta-feira (26), come&ccedil;a a programa&ccedil;&atilde;o com os povos ind&iacute;genas. A Aldeia Multi&eacute;tnica, &aacute;rea criada especialmente para a edi&ccedil;&atilde;o de 2007 do festival, deve receber cerca de 200 ind&iacute;genas de v&aacute;rias etnias, de todo pa&iacute;s.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Talita Cavalcante</em></p> <p><em>Todo o conte&uacute;do deste site est&aacute; publicado sob a Licen&ccedil;a Creative Commons Atribui&ccedil;&atilde;o 3.0 Brasil. &Eacute; necess&aacute;rio apenas dar cr&eacute;dito &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil </strong></em></p> 13º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros Agência Brasil Alto Paraíso Cultura Hasteamento do Mastro do Divino Espírito Santo São Jorge Tue, 23 Jul 2013 15:28:31 +0000 talita.cavalcante 726261 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/