luciene luzia neves https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/148171/all pt-br Trabalhadores estão entre as vítimas da onda de violência em São Paulo https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2012-11-23/trabalhadores-estao-entre-vitimas-da-onda-de-violencia-em-sao-paulo <p> Fernanda Cruz<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> S&atilde;o Paulo &ndash; Os tr&ecirc;s vizinhos mortos durante a chacina da &uacute;ltima quarta-feira em um bar do Jardim Boa Vista, zona sul da capital paulista, t&ecirc;m em comum hist&oacute;rias de pessoas trabalhadoras que tinham muitos sonhos. A mais jovem entre eles, a promotora de eventos Luciene Luzia Neves, de 24 anos, era integrante de um grupo de jovens da Igreja Cat&oacute;lica que ajudava a recuperar ex-presidi&aacute;rios e viciados em drogas.</p> <p> Entre os amigos, conhecidos e parentes que participaram do enterro de Luciene hoje (23) pela manh&atilde;, no Cemit&eacute;rio Memorial Parque das Cerejeiras, zona sul, estava Kelly Vaz Nogueira, de 27 anos. A amiga, que trabalha como auxiliar administrativo, frequentava a mesma igreja, no bairro de Piraporinha.</p> <p> Kelly tinha um motivo especial para estar presente na &uacute;ltima homenagem &agrave; colega. Naquele mesma sala em que a amiga era velada, h&aacute; um m&ecirc;s e meio, a auxiliar administrativo chorava a morte do seu irm&atilde;o, Leonardo Vaz Nogueira, 28 anos. &ldquo;&Eacute; dif&iacute;cil estar aqui, porque aqui o Leonardo tamb&eacute;m foi enterrado e velado. Mas n&oacute;s estamos aqui para nos unir, todas as fam&iacute;lias que perderam [pessoas] dessa forma&nbsp; tr&aacute;gica, para a gente fazer justi&ccedil;a&rdquo;, disse.</p> <p> Assim como Luciene, Leonardo foi morto a tiros por ocupantes de uma moto. Segundo a m&atilde;e do rapaz, a professora Adais Vaz Nogueira, 55 anos, ele foi executado &agrave; noite, enquanto deixava a namorada na casa dele, na zona sul da capital. &ldquo;O passageiro da moto passou atirando e a moto caiu por cima dele e da namorada. Ela se levantou, eles viram. Da&iacute; os [assassinos] voltaram, ela pediu para n&atilde;o atirar, mas atiraram contra ela, que foi atingida de rasp&atilde;o. Meu filho morreu no local&rdquo;, disse. Leonardo trabalhava como gar&ccedil;om e cursava o &uacute;ltimo semestre de radiologia</p> <p> O pai de Leonardo, Jos&eacute; Luis Vaz Nogueira, 58 anos, aposentado, n&atilde;o se conforma com o fim tr&aacute;gico do filho. &ldquo;Meu filho era trabalhador, estudante, estava quase para se formar. Era um menino do bem. Na periferia tem trabalhadores, pessoas honestas. N&atilde;o tem s&oacute; vagabundo e bandido&rdquo;, disse. Jos&eacute; relatou que a rotina da fam&iacute;lia e de toda a vizinhan&ccedil;a mudou. &ldquo;Estamos atentos, com medo. Tenho outros tr&ecirc;s filhos. Quando eles saem da faculdade, eu ligo para saber se est&atilde;o saindo. N&atilde;o durmo enquanto eles n&atilde;o chegam&rdquo;.</p> <p> Segundo o &uacute;ltimo balan&ccedil;o da Secretaria de Estado de Seguran&ccedil;a P&uacute;blica, <a href="http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-11-21/numero-de-pessoas-assassinadas-aumenta-114-em-outubro-na-cidade-de-sao-paulo" target="_blank">176 pessoas foram assassinadas em outubro de 2012, um aumento de 114% em rela&ccedil;&atilde;o ao mesmo m&ecirc;s de 2011</a>. A vizinhan&ccedil;a, que antes das execu&ccedil;&otilde;es era calma, agora est&aacute; assustada.</p> <p> A reportagem da <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil </strong>conversou com moradores da Rua Albino Correia de Campos, onde ocorreu a chacina. Donos de bares, que antes encerravam o expediente depois da meia-noite, dizem agora que ir&atilde;o fechar as portas antes das 19 horas. &Agrave; noite, o medo predomina.</p> <p> Para o mec&acirc;nico Amaro Assun&ccedil;&atilde;o, 62 anos, considerado por Luciene como um&nbsp; segundo pai, a vizinhan&ccedil;a n&atilde;o ser&aacute; mais a mesma. A promotora de eventos ia &agrave; casa de Amaro com frequ&ecirc;ncia. &ldquo;Ela era uma pessoa maravilhosa, alegre, feliz, contente com tudo. Muito divertida, sincera. Uma pessoa excelente&rdquo;, disse. Na &uacute;ltima vez em que a viu, no &uacute;ltimo s&aacute;bado, Luciene estava feliz. &ldquo;Ela era muito carinhosa comigo&rdquo;.<br /> &nbsp;<br /> Outro amigo, Robson Rodrigues, 27 anos, analista de redes, lamenta a morte de Luciene antes de se casar. &ldquo;Ela ia ser madrinha do meu casamento, que ser&aacute; em maio de 2013&rdquo;. Robson participa h&aacute; cinco anos do mesmo grupo de jovens que luta contra a viol&ecirc;ncia com Luciene. &ldquo;L&aacute; ela n&atilde;o tinha uma fun&ccedil;&atilde;o espec&iacute;fica, ela se doava ao grupo&rdquo;, disse. Nos encontros, os membros buscavam como principais objetivos a dissemina&ccedil;&atilde;o da paz.</p> <p> Robson declarou que, ap&oacute;s a morte da amiga que conhecia h&aacute; seis anos, vai estudar direito para trabalhar na &aacute;rea criminal. &ldquo;Quero fazer justi&ccedil;a em casos como esse. Eu n&atilde;o vou ficar indiferente a isso. N&atilde;o quero me aliar &agrave; guerra, mas quero tomar consci&ecirc;ncia da paz. Eu resolvi encarar essa paz de frente, sem que haja viol&ecirc;ncia&rdquo;.</p> <p> O analista de redes tem boas recorda&ccedil;&otilde;es de Luciene. &ldquo;Ela sempre foi uma pessoa muito extrovertida, muito brincalhona, muito amiga de todo mundo. D&aacute; para perceber pelo tanto de gente que est&aacute; aqui [no vel&oacute;rio]&rdquo;, disse.</p> <p> A amiga Juliana Martins, 21 anos, <em>designer, </em>trabalhava na mesma empresa que Luciene, uma gravadora musical voltada para o p&uacute;blico cat&oacute;lico. No trabalho, Luciene cuidava da parte comercial e das produ&ccedil;&otilde;es de <em>shows </em>e eventos. &ldquo;Ela era uma pessoa totalmente &uacute;nica, alegre, feliz, simp&aacute;tica, muito bem humorada. Eu acho que justi&ccedil;a &eacute; uma coisa que precisa acontecer porque ela n&atilde;o merecia nada disso&rdquo;.</p> <p> No dia da morte da promotora de eventos, elas haviam passado a data toda praticamente juntas e foram ao <em>shopping</em> passear, antes de Luciene voltar para casa. &ldquo;Nesse dia, &eacute; impressionante dizer, mas ela estava muito feliz. Eu nunca vi a Luciene triste. Ela &eacute; o tipo de pessoa que a gente n&atilde;o v&ecirc; chorando, reclamando da vida&rdquo;, disse.</p> <p> Luciene adorava ir &agrave;s missas do padre Marcelo Rossi. &ldquo;&Iacute;amos juntas todas as quintas-feiras&rdquo;, disse a amiga administradora Talita Macedo, 25 anos. Segundo Talita, os planos para o futuro da amiga envolviam fazer curso superior. &ldquo;Ela pretendia voltar a fazer faculdade, ela chegou a come&ccedil;ar dois cursos, mas trancou&rdquo;, disse.</p> <p> No momento em que Luciene era sepultada, os outros dois mortos na chacina tamb&eacute;m era velados, no mesmo cemit&eacute;rio. Um deles, Marcos Faustino Quaresma, 31 anos, era eletricista de autom&oacute;veis e tinha uma oficina mec&acirc;nica. &ldquo;Ele sonhava ampliar a oficina dele. Estava animado para crescer o neg&oacute;cio&rdquo;, disse o irm&atilde;o da v&iacute;tima, Elias&nbsp; Faustino, 34 anos. &ldquo;Ele era uma pessoa tranquila, n&atilde;o era envolvido com nada errado. Uma pessoa que trabalhava, tinha fam&iacute;lia, uma filha de 7 anos&rdquo;.</p> <p> De acordo com o irm&atilde;o, Marcos havia parado no bar para tomar uma cerveja depois do trabalho. No estabelecimento, haveria um <em>show </em>de m&uacute;sica sertaneja.</p> <p> O vendedor Edson Alves dos Santos, 55 anos, conhecia a outra v&iacute;tima, Alexandre Figueiredo, 38 anos, desde crian&ccedil;a. Pai de duas filhas, Alexandre estava noivo e planejava se casar em breve. Ele dividia-se entre o trabalho e os cuidados com a m&atilde;e idosa, que precisava constantemente ser levada ao m&eacute;dico.&ldquo;Ele era fora de s&eacute;rie. Um cara de fazia festas na sua casa, brincalh&atilde;o com todo mundo. O cara era dez&rdquo;, disse o amigo, emocionado.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: F&aacute;bio Massalli</em></p> cemitério jardim boa vista luciene luzia neves Nacional violência em São Paulo vítimas da violência vítimas da violência em são paulo Sat, 24 Nov 2012 00:10:59 +0000 fabio.massalli 708565 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/