ensinamentos https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/145022/all pt-br Professora cria remédio contra bullying em escola da periferia de São Paulo https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2012-10-15/professora-cria-remedio-contra-bullying-em-escola-da-periferia-de-sao-paulo <p> <img alt="" src="https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/imagecache/300x225/gallery_assist/25/gallery_assist705525/prev/AgenciaBrasil111012MCSP2.JPG" style="width: 300px; float: right; height: 225px" />Fernanda Cruz<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> S&atilde;o Paulo &ndash; Quando adolescente, a professora Deyse da Silva Sobrino media 1,72 metro e pesava 45 quilos. A garota alta e magra sofria quando era chamada pelos colegas de &ldquo;pau de catar bal&atilde;o&rdquo; e &ldquo;vareta de bilhar&rdquo;. Na &eacute;poca, o termo <em>bullying</em> ainda n&atilde;o existia, mas a pr&aacute;tica de criar apelidos maldosos e agredir de forma f&iacute;sica ou verbal j&aacute; fazia parte do cotidiano das escolas.</p> <p> Atualmente, Deyse tem 60 anos e tr&ecirc;s forma&ccedil;&otilde;es: biologia, pedagogia e direito. Ela d&aacute; aulas h&aacute; 42 anos e tenta passar aos seus alunos ensinamentos que v&atilde;o al&eacute;m da inform&aacute;tica que ministra na Escola Municipal de Ensino Fundamental Jos&eacute; Bonif&aacute;cio, localizada na zona leste, periferia da capital paulista. &ldquo;Isso [o <em>bullying</em>] nunca me afetou. Eu estava bem comigo mesma. &Eacute; isso que tento passar ao aluno, que se sinta bem com ele mesmo&rdquo;.</p> <p> Andresson Silva, 13 anos, estudante do 8&ordm; ano, seguiu o conselho da professora Deyse. O menino tem um grau de defici&ecirc;ncia visual e, por usar &oacute;culos, recebia apelidos maldosos dos outros meninos. &ldquo;Era muito ruim. Todo dia chegavam com uma brincadeira de maldade. Eles me pegavam, jogavam no ch&atilde;o, empurravam, me batiam, xingavam. Pegavam meus &oacute;culos e jogavam no ch&atilde;o. Eu n&atilde;o suportava a press&atilde;o&rdquo;. Ele conta que tem poucos amigos e sofreu <em>bullying</em> desde os 5 anos de idade. Por medo, Andresson evitava o assunto com os pais, mas encontrou apoio na professora que j&aacute; viveu o mesmo problema.</p> <p> &ldquo;O aluno v&ecirc;m me contar seus segredos e n&atilde;o conto a ningu&eacute;m. Se ele confiou em mim, por que vou contar para os outros? Esse relacionamento de professor e aluno &eacute; a base. Se n&atilde;o tiver isso, n&atilde;o h&aacute; di&aacute;logo, n&atilde;o existe amizade&rdquo;, disse a professora.</p> <p> Mas a grande mudan&ccedil;a para Andresson e os outros alunos, que t&ecirc;m entre 5 e 17 anos, veio em 2010, quando Deyse decidiu tomar uma atitude contra o <em>bullying</em> em toda a escola. Ela distribuiu um question&aacute;rio an&ocirc;nimo para uma parte dos estudantes (309 alunos) contendo perguntas como: voc&ecirc; j&aacute; sofreu <em>bullyin</em>g? J&aacute; praticou? J&aacute; viu algu&eacute;m praticando?</p> <p> O resultado surpreendeu a professora, que leciona na Jos&eacute; Bonif&aacute;cio h&aacute; 15 anos: 70% dos alunos j&aacute; presenciaram a pr&aacute;tica, 44,5% j&aacute; foram v&iacute;timas, 38,5% admitiram ter praticado <em>bullying</em> alguma vez na vida e 9,7% praticam constantemente. Os ambientes escolares onde o <em>bullying</em> esteve mais presente foram o p&aacute;tio e a sala de aula.</p> <p> Para reverter essa situa&ccedil;&atilde;o, a professora criou um medicamento fict&iacute;cio com a ajuda dos alunos, chamado Sitocol. Sob o <em>slogan</em> &ldquo;Tomou o Sitocol hoje?&rdquo;, o rem&eacute;dio tem uma bula, escrita de forma coletiva entre os alunos. &ldquo;Ele age no organismo produzindo consci&ecirc;ncia, modificando a maneira de agir das pessoas, o sentimento. Se usado em excesso, o Sitocol vai fazer rir muito e ter muita felicidade&rdquo;, destacou a professora.</p> <p> Com a campanha, a redu&ccedil;&atilde;o da pr&aacute;tica do <em>bullying</em> na escola foi consider&aacute;vel. Em m&eacute;dia, 700 alunos t&ecirc;m recebido, por ano, as orienta&ccedil;&otilde;es da professora Deyse, distribu&iacute;das por 21 turmas. Ela planeja reaplicar o question&aacute;rio entre os alunos no pr&oacute;ximo ano, mas relata que a melhora na atitude deles pode ser vista pelos corredores da institui&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Antes, quando a gente subia a escadaria eu via os alunos grandes pegando os pequenos pelos bra&ccedil;os e arrastando pelo corredor, com ar de poderosos. O outro esperneava de vergonha. E eu mandava soltar. Mas isso era frequente&rdquo;.</p> <p> A professora presenciava tamb&eacute;m outras situa&ccedil;&otilde;es humilhantes vividas por v&iacute;timas de <em>bullying</em>. Certa vez, um aluno jogou o conte&uacute;do da mochila de um colega no p&aacute;tio da escola. Os alunos que passavam naquele momento ajudavam a chutar os pertences, que se espalharam pelo ch&atilde;o. Deyse ajudou a v&iacute;tima a recolher todo o material. &ldquo;Eu n&atilde;o me conformava com essas coisas. Resolvi fazer esse trabalho tendo em vista essas ocorr&ecirc;ncias, que me deixavam desesperada&rdquo;.</p> <p> A aluna Pamela da Silva Bonfim, 11 anos, do 6&ordm; ano, que antes ouvia xingamentos e at&eacute; apanhava, conta que agora vive de outra forma. &ldquo;Antes, eu ia para a minha cama, come&ccedil;ava a chorar. Agora esses apelidos n&atilde;o influenciam em nada. Eles me chamavam de baixinha e tenho esse apelido at&eacute; hoje, mas n&atilde;o me importo&rdquo;.</p> <p> Ao ser apelidada de sem dente, a estudante Ana Paula Prazeres de Ornelas, 11 anos, do 6&ordm; ano, mostrou confian&ccedil;a ao enfrentar situa&ccedil;&atilde;o parecida. &ldquo;Desde o ano passado, come&ccedil;aram a me chamar de sem dente. Eu falo para as pessoas que me xingam que isso n&atilde;o me incomoda, que n&atilde;o vou ficar sofrendo por causa delas. Eles dizem que fazem isso por divers&atilde;o, mas n&atilde;o acho que seja divertido fazer as outras pessoas sofrerem&rdquo;.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Gra&ccedil;a Adjuto</em></p> Agência Brasil apelidos bullying Dia do professor EBC Educação Educação educadores ensinamentos escola escolas periferia professora remédio são paulo Mon, 15 Oct 2012 11:27:33 +0000 gracaadjuto 705524 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/