ex-reitor da Universidade de Brasília https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/140679/all pt-br Comissão da Verdade da UnB vai investigar suspeita de assassinato de Anísio Teixeira https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2012-08-17/comissao-da-verdade-da-unb-vai-investigar-suspeita-de-assassinato-de-anisio-teixeira <p class="western" style="margin-bottom: 0cm"> Gilberto Costa<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> Bras&iacute;lia &ndash; A Comiss&atilde;o de Mem&oacute;ria e Verdade da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB) vai investigar a suspeita que o ex-reitor da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB), An&iacute;sio Teixeira, foi assassinado em mar&ccedil;o de 1971, por agentes do Estado, ap&oacute;s ser sequestrado e levado para uma unidade da Aeron&aacute;utica, quando se dirigia &agrave; casa do fil&oacute;logo Aur&eacute;lio Buarque de Holanda Ferreira, no Flamengo, no Rio de Janeiro. Segundo a nova vers&atilde;o, An&iacute;sio sofreu tortura e foi encontrado com v&aacute;rios ossos quebrados e traumatismo na cabe&ccedil;a e no ombro, devido a pancadas com objeto de forma cil&iacute;ndrica, possivelmente feito de madeira.</p> <p> Essa vers&atilde;o &eacute; admitida pela fam&iacute;lia do ex-reitor e veio a p&uacute;blico na semana passada em Bras&iacute;lia no momento de instala&ccedil;&atilde;o da comiss&atilde;o. Durante a cerim&ocirc;nia, Jo&atilde;o Augusto de Lima Rocha, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e bi&oacute;grafo de An&iacute;sio Teixeira, anunciou que tinha o conhecimento do assassinato conforme confidenciado a ele em relatos diferentes pelo ex-governador da Bahia Lu&iacute;s Viana Filho (1967-1971) e pelo professor e cr&iacute;tico liter&aacute;rio Afr&acirc;nio Coutinho.</p> <p> &ldquo;Essa suspeita perdura at&eacute; hoje entre os familiares. Nunca se soube uma situa&ccedil;&atilde;o que objetivamente que negasse isso. Muito pelo contr&aacute;rio, ficaram sempre situa&ccedil;&otilde;es n&atilde;o esclarecidas. Ent&atilde;o, n&atilde;o nos surpreendeu [a revela&ccedil;&atilde;o do professor Jo&atilde;o Augusto] porque, vez por outra, j&aacute; tinham sido levantadas que se processaria alguma coisa no sentido de investigar isso&rdquo;, confirmou &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong>, o m&eacute;dico psiquiatra Carlos Ant&ocirc;nio Teixeira, terceiro filho de An&iacute;sio Teixeira.</p> <p> Segundo a vers&atilde;o oficial, o ex-reitor morreu ap&oacute;s cair acidentalmente no po&ccedil;o do elevador de servi&ccedil;o do pr&eacute;dio onde morava Aur&eacute;lio Buarque. Conforme Carlos Ant&ocirc;nio, a fam&iacute;lia sempre desconfiou da vers&atilde;o, mas temia buscar investiga&ccedil;&atilde;o aprofundada. &ldquo;N&oacute;s, na verdade, n&atilde;o v&iacute;amos clima e nem maior mobiliza&ccedil;&atilde;o para isso. Por isso, nos mantivemos distantes. Na &eacute;poca, tentamos clarear os fatos, mas as coisas tomaram o caminho de querer culpar o mordomo, a&iacute; desistimos de prosseguir&rdquo;, disse, ao salientar que a fam&iacute;lia &ldquo;sempre se disp&ocirc;s&rdquo; &agrave; qualquer iniciativa de investiga&ccedil;&atilde;o apesar de nunca ter tomado a frente. &ldquo;A fam&iacute;lia tinha medo de sofrer retalia&ccedil;&otilde;es&rdquo;, complementa o professor Jo&atilde;o Augusto.</p> <p> A suspeita sobre as circunst&acirc;ncias da morte de An&iacute;sio Teixeira ser&aacute; investigada pela Comiss&atilde;o de Mem&oacute;ria e Verdade da UnB, que por coincid&ecirc;ncia tem o nome do ex-reitor, em uma homenagem a ele. A informa&ccedil;&atilde;o &eacute; do historiador da UnB Jos&eacute; Ot&aacute;vio Nogueira Guimar&atilde;es, coordenador de investiga&ccedil;&atilde;o da comiss&atilde;o. &ldquo;An&iacute;sio Teixeira era algu&eacute;m que incomodava. Ele foi cassado [depois do golpe militar de 1964], mas n&atilde;o tinha posi&ccedil;&otilde;es de esquerda expl&iacute;cita. Tinha, por&eacute;m, projetos e uma forma de pensar que certamente n&atilde;o agradava o regime&rdquo;, avalia o historiador.</p> <p> Conforme o professor Jo&atilde;o Augusto, quem primeiro confidenciou a vers&atilde;o de assassinato foi Lu&iacute;s Viana Filho, que a &eacute;poca (dezembro de 1988) escrevia o livro <em>An&iacute;sio Teixeira: a Pol&ecirc;mica da Educa&ccedil;&atilde;o</em> (Editora Unesp). Viana, que apoiou o golpe e era pr&oacute;ximo do marechal Castello Branco (primeiro presidente militar), &ldquo;teve informa&ccedil;&atilde;o de que An&iacute;sio n&atilde;o tinha morrido, estava detido em instala&ccedil;&otilde;es da Aeron&aacute;utica no Rio.&rdquo;</p> <p> O segundo depoimento foi de Afr&acirc;nio Coutinho (mar&ccedil;o de 1989) na casa e na presen&ccedil;a de James Amado (irm&atilde;o de Jorge Amado) e da sua esposa Luiza Ramos (filha de Graciliano Ramos). &ldquo;Ele me disse que presenciou a necr&oacute;psia de An&iacute;sio Teixeira. Pelos ossos que estavam quebrados de An&iacute;sio, ele n&atilde;o admitia que tenha sido queda. Quase todos os ossos estavam quebrados. A vers&atilde;o era de que ele foi sequestrado no caminho [&agrave; casa de Aur&eacute;lio Buarque] e submetido &agrave; tortura&rdquo;. Conforme o relato de Afr&acirc;nio, &ldquo;An&iacute;sio tamb&eacute;m disse a ele que estava recebendo telefonemas com amea&ccedil;as.&rdquo;</p> <p> Carlos Ant&ocirc;nio Teixeira acrescenta que no momento do suposto sequestro, An&iacute;sio tinha em sua pasta um texto do Partido Comunista Brasileiro, o Partid&atilde;o (que estava na clandestinidade, mas era contra a guerrilha). O texto, que desapareceu, foi dado ao ex-reitor pelo pr&oacute;prio filho &ndash; ele, sim, militante do PCB. &ldquo;Era um documento cr&iacute;tico. Falava da ditadura, n&atilde;o falava das pessoas, mas das perspectivas pr&oacute;ximas e imediatas&rdquo;, descreveu Carlos Ant&ocirc;nio &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong>. De acordo com ele, o pai &ldquo;achou o texto l&uacute;cido e por causa da clandestinidade do Partid&atilde;o n&atilde;o se afastava fisicamente do documento.&rdquo; A pasta e outros documentos de An&iacute;sio Teixeira foram devolvidos &agrave; fam&iacute;lia.</p> <p> Al&eacute;m de Afr&acirc;nio Coutinho, a necropsia de An&iacute;sio Teixeira foi testemunhada pelos m&eacute;dicos e amigos do ex-reitor: Diolindo Couto (neurologista), Domingos de Paola (professor titular de anatomia patol&oacute;gica) e Francisco Duarte Guimar&atilde;es (anatomopatologista do do Hospital dos Servidores). Todos os tr&ecirc;s m&eacute;dicos, assim como Afr&acirc;nio Coutinho e Lu&iacute;s Viana Filho, j&aacute; est&atilde;o mortos.</p> <p> A Comiss&atilde;o de Mem&oacute;ria e Verdade da UnB dever&aacute; fazer a primeira reuni&atilde;o de trabalho na pr&oacute;xima semana e ter&aacute; acesso ao acervo do Arquivo Nacional, entre outros, al&eacute;m de ser apoiada pela Comiss&atilde;o da Verdade do governo federal, a quem dever&aacute; encaminhar o relat&oacute;rio final.</p> <p> Procurado pela <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong>, o Minist&eacute;rio da Defesa informou que n&atilde;o ir&aacute; se manifestar sobre o assunto e que o caso deve ser tratado no &acirc;mbito da Comiss&atilde;o da Verdade.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Carolina Pimentel</em></p> Anísio Teixeira Comissão de Memória e Verdade ditadura militar ex-reitor da Universidade de Brasília Justiça unb Fri, 17 Aug 2012 15:47:41 +0000 carolinap 701305 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/