Fubra https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/116024/all pt-br CGU conclui que Erenice Guerra cometeu diversas irregularidades graves https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2011-03-23/cgu-conclui-que-erenice-guerra-cometeu-diversas-irregularidades-graves <p> Luciana Lima<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> Bras&iacute;lia - A Controladoria-Geral da Uni&atilde;o (CGU) concluiu que a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra cometeu irregularidades graves quando esteve &agrave; frente da pasta, no ano passado. Erenice &eacute; acusada de tr&aacute;fico de influ&ecirc;ncia e de beneficiar parentes em contrata&ccedil;&otilde;es de servi&ccedil;os a&eacute;reos para os Correios, estudos para projetos de mobilidade urbana e outorgas de concess&atilde;o de servi&ccedil;o m&oacute;vel especializado. O relat&oacute;rio da CGU foi enviado hoje (23) &agrave; Pol&iacute;cia Federal, ao Minist&eacute;rio P&uacute;blico e &agrave; Comiss&atilde;o de &Eacute;tica P&uacute;blica da Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica. O relat&oacute;rio vai servir como subs&iacute;dio &agrave;s investiga&ccedil;&otilde;es de natureza criminal e &eacute;tica contra a ex-ministra.</p> <p> As investiga&ccedil;&otilde;es referem-se ao conjunto de den&uacute;ncias veiculadas na imprensa no segundo semestre do ano passado envolvendo Erenice Guerra e parentes dela. Erenice assumiu a Casa Civil quando Dilma Rousseff saiu da pasta para disputar as elei&ccedil;&otilde;es presidenciais. Ela era considerada bra&ccedil;o direito da presidenta Dilma Rousseff quando esta era ministra de Minas e Energia e, em seguida, chefe da Casa Civil do governo de Luiz In&aacute;cio Lula da Silva.</p> <p> O foco das apura&ccedil;&otilde;es da CGU foram as irregularidades administrativas e financeiras. Somente em refer&ecirc;ncia aos contratos firmados entre os Correios e a empresa MTA para a presta&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os de transporte de carga por meio da Rede Postal A&eacute;rea Noturna, a CGU analisou quatro contratos celebrados em 2010, alguns decorrentes de preg&otilde;es eletr&ocirc;nicos e outros dispensados de licita&ccedil;&atilde;o, com valor total de R$ 59,8 milh&otilde;es. A MTA est&aacute; no centro do epis&oacute;dio que envolve um dos filhos de Erenice, Israel, em tr&aacute;fico de influ&ecirc;ncia e cobran&ccedil;a de propina para ajudar a empresa dentro do governo. A investiga&ccedil;&atilde;o apontou que os Correios mantinham um contrato com a MTA para transporte de carga postal a&eacute;rea de S&atilde;o Paulo para Manaus, ao pre&ccedil;o unit&aacute;rio de R$ 1,99 por quilograma transportado. Em seguida, a ECT celebrou outro contrato com a mesma empresa, para o trecho Bras&iacute;lia-Manaus, ao pre&ccedil;o de R$ 3,70 por quilo.</p> <p> As inspe&ccedil;&otilde;es feitas pela CGU nos dep&oacute;sitos e terminais da estatal nos aeroportos revelaram que os Correios estavam enviando, de caminh&atilde;o, grandes quantidades de carga de S&atilde;o Paulo para Bras&iacute;lia, de onde eram embarcadas, nos avi&otilde;es da MTA, para Manaus. &ldquo;A ECT passou a desembolsar R$1,71 a mais por quilo transportado de Bras&iacute;lia, do que pagaria por essa mesma carga se a embarcasse de S&atilde;o Paulo; isso sem contar o que gastava com o transporte por caminh&atilde;o de SP para Bras&iacute;lia&rdquo;, apontou a CGU.</p> <p> &ldquo;Diante das constata&ccedil;&otilde;es, a CGU recomendou &agrave; ECT [Empresa Brasileira de Correios e Tel&eacute;grafos], entre outras medidas, a instaura&ccedil;&atilde;o de procedimentos apurat&oacute;rios para identificar os causadores dos danos, promover as respectivas responsabiliza&ccedil;&otilde;es e quantificar valores das multas a serem aplicadas, bem como valores pagos a mais pela ECT &agrave; MTA, para efeito de cobran&ccedil;a de ressarcimento ao Er&aacute;rio&rdquo;, diz o relat&oacute;rio.</p> <p> Outra irregularidade considerada grave de Erenice foi constatada na outorga do Servi&ccedil;o M&oacute;vel Especializado (SME), na subfaixa de 411 MHZ, concedida &agrave; empresa Unicel pela Ag&ecirc;ncia Nacional de Telecomunica&ccedil;&otilde;es (Anatel). A Unicel tinha como funcion&aacute;rio o marido da ex-ministra, Jos&eacute; Roberto Camargo. As apura&ccedil;&otilde;es feitas pela controladoria conclu&iacute;ram que Erenice atuou para beneficiar a Unicel. De acordo com a CGU, o chamamento p&uacute;blico feito em janeiro de 2004 e no qual se baseou a ag&ecirc;ncia para outorgar, sem licita&ccedil;&atilde;o, o SME &agrave; Unicel &ldquo;n&atilde;o pode ser considerado v&aacute;lido para fins de aferi&ccedil;&atilde;o do eventual interesse de outras de empresas na explora&ccedil;&atilde;o do servi&ccedil;o na subfaixa de 411 MHz&rdquo;.</p> <p> No edital de chamamento n&atilde;o havia pr&eacute;via destina&ccedil;&atilde;o da faixa para esse servi&ccedil;o, nem regulamenta&ccedil;&atilde;o da canaliza&ccedil;&atilde;o e uso da faixa. Diante disso, a CGU n&atilde;o aceitou o argumento da Anatel de que a regulamenta&ccedil;&atilde;o, <em>a posteriori</em>, da subfaixa de 411 MHz convalidaria o chamamento p&uacute;blico. &ldquo;N&atilde;o poderia convalid&aacute;-lo, pois, sem a pr&eacute;via destina&ccedil;&atilde;o do servi&ccedil;o &agrave; faixa, o certame n&atilde;o permitiu aos interessados saber apropriadamente o que estava em disputa&rdquo;, diz o relat&oacute;rio.</p> <p> A CGU tamb&eacute;m n&atilde;o aceitou os argumentos apresentados pelo presidente da Anatel, Elifas Chaves Gurgel do Amaral, no sentido de que a regulamenta&ccedil;&atilde;o da faixa &eacute; condi&ccedil;&atilde;o apenas para a expedi&ccedil;&atilde;o do termo de autoriza&ccedil;&atilde;o, e n&atilde;o para o chamamento p&uacute;blico. A auditoria da CGU ressalta ainda que o chamamento p&uacute;blico ocorreu em janeiro de 2004, v&aacute;rios anos antes da concess&atilde;o da outorga. &ldquo;Em um setor que passa por intensa modifica&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica, parece bastante inapropriado assumir que as condi&ccedil;&otilde;es de explora&ccedil;&atilde;o e os interesses de mercado se mant&ecirc;m os mesmos&rdquo;, avalia a CGU em seu relat&oacute;rio.</p> <p> No relat&oacute;rio a CGU recomendou a imediata anula&ccedil;&atilde;o da outorga, al&eacute;m da apura&ccedil;&atilde;o de responsabilidades pela decis&atilde;o de dispensar a licita&ccedil;&atilde;o.</p> <p> Quanto &agrave;s apura&ccedil;&otilde;es sobre um acordo firmado entre o Minist&eacute;rio das Cidades e a Funda&ccedil;&atilde;o Universidade de Bras&iacute;lia (FUB) para a elabora&ccedil;&atilde;o de estudos de planos diretores integrados de mobilidade urbana, a CGU tamb&eacute;m constatou graves irregularidades, como o pagamento de R$ 2,1 milh&otilde;es por um produto que n&atilde;o atendeu &agrave; demanda previamente estabelecida pelo minist&eacute;rio. De acordo com o relat&oacute;rio, houve falta de crit&eacute;rios na escolha da institui&ccedil;&atilde;o para a realiza&ccedil;&atilde;o dos servi&ccedil;os; inexist&ecirc;ncia de formaliza&ccedil;&atilde;o do procedimento de dispensa de licita&ccedil;&atilde;o; presta&ccedil;&atilde;o de contas com documenta&ccedil;&atilde;o incompleta; aus&ecirc;ncia de instaura&ccedil;&atilde;o de tomada de contas especial; subcontrata&ccedil;&atilde;o de entidade privada sem qualquer v&iacute;nculo aparente com o tema mobilidade urbana; e, por fim, o n&atilde;o alcan&ccedil;amento do objetivo pretendido com a contrata&ccedil;&atilde;o.</p> <p> O acordo entre o Minist&eacute;rio das Cidades e a FUB foi firmado em 2007, com valor de R$ 10,5 milh&otilde;es. A FUB recebeu o valor integral e contratou, por R$ 2,1 milh&otilde;es, a execu&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os de coleta e organiza&ccedil;&atilde;o de informa&ccedil;&otilde;es, mas a presta&ccedil;&atilde;o de contas sobre a aplica&ccedil;&atilde;o desse montante n&atilde;o explicava a utiliza&ccedil;&atilde;o do dinheiro nem evidenciava o cumprimento das a&ccedil;&otilde;es previstas.</p> <p> Segundo o relat&oacute;rio, o Minist&eacute;rio das Cidades cobrou reiteradamente a devolu&ccedil;&atilde;o do dinheiro, o que n&atilde;o ocorreu, assim como n&atilde;o foi instaurado procedimento especial de tomada de contas, igualmente recomendado. A FUB s&oacute; devolveu ao minist&eacute;rio os restantes R$ 8,4 milh&otilde;es.</p> <p> Outra irregularidade apontada no relat&oacute;rio da CGU foi a subcontrata&ccedil;&atilde;o, pela FUB, da Funda&ccedil;&atilde;o Universit&aacute;ria de Bras&iacute;lia (Fubra), sem licita&ccedil;&atilde;o, para a execu&ccedil;&atilde;o dos servi&ccedil;os de coleta e organiza&ccedil;&atilde;o de informa&ccedil;&otilde;es. O Minist&eacute;rio das Cidades havia justificado a contrata&ccedil;&atilde;o da FUB com o argumento de que a institui&ccedil;&atilde;o tinha <em>expertise</em> no desenvolvimento desse tipo de trabalho, elevado conceito nacional e internacional, dispondo de quadro t&eacute;cnico altamente especializado no assunto, al&eacute;m de trabalhos cient&iacute;ficos publicados na &aacute;rea de mobilidade urbana. O relat&oacute;rio concluiu que, se isso era verdade, a FUB pn&atilde;o recisaria subcontratar a Fubra e, esta, subcontratar uma institui&ccedil;&atilde;o privada, o Ibesp, que tem como objeto social a promo&ccedil;&atilde;o do bem-estar de servidores p&uacute;blicos, para ser o principal agente no processo.</p> <p> Ao final, o Ibesp recebeu cerca de R$ 1,8 milh&atilde;o, que correspondem a mais de 85% dos recursos despendidos. O relat&oacute;rio aponta que a CGU n&atilde;o encontrou quaisquer informa&ccedil;&otilde;es acerca dos trabalhos realizados pelo Ibesp ou qualquer tipo de comprova&ccedil;&atilde;o dos pagamentos realizados, como notas fiscais e recibos.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Vinicius Doria</em></p> Anatel Casa Civil CGU Correios Erenice FUB Fubra Ibesp licitação Ministério das Cidades MTA Política tráfico de influência unb Unicel Wed, 23 Mar 2011 22:43:31 +0000 vinicius.doria 666581 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/