Rede BioFORT se expande no Brasil para combater deficiência de micronutrientes

28/09/2013 - 12h45

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Magé e Pinheiral são os novos municípios fluminenses que aderiram à Rede BioFORT, liderada pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, para implementar ações de biofortificação de alimentos no estado. A Rede BioFORT existe no Brasil desde 2003 e envolve cerca de 150 pesquisadores de várias unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), institutos de pesquisa estaduais e federais e universidades. A Embrapa Agroindústria de Alimentos  está sediada no Rio.

O projeto piloto no estado começou no município de Itaguaí e a ideia é avançar pelo interior.  Ainda este ano, a  cidade de Rio das Ostras deverá se tornar também parceira do programa.  

O vice-coordenador da Rede BioFORT, José Luiz Viana de Carvalho, disse à Agência Brasil  que um acordo que será firmado com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro (Emater/RJ) permitirá expandir o projeto para outros municípios. “Porque o que falta para a gente é ter sempre terra. A gente precisa de parceria para trazer o município interessado para dentro do projeto e conseguir manejar isso de forma mais profissional”, acrescentou.

Utilizando a técnica de melhoramento genético convencional, ou seja, o cruzamento de plantas da mesma espécie, os pesquisadores conseguem obter cultivares com maiores teores de zinco, ferro e pró-vitamina A, que combatem a deficiência de micronutrientes no organismo. Em Magé e Pinheiral, o projeto está sendo iniciado com cultivares de feijão e batata-doce.

O pesquisador da Embrapa informou que um dos principais objetivos do projeto é fortalecer tanto a merenda escolar quanto a agricultura familiar. De acordo com  a regra em vigor, as prefeituras devem adquirir  30% dos alimentos destinados à merenda escolar da agricultura familiar. Para isso, é preciso que esses agricultores tenham uma produção constante, o que ainda não ocorre. “É um passo de cada vez que a gente vai dando”, disse Carvalho. “Por isso é que a gente tem que estar sempre com um parceiro que possa suprir essa questão da produção do material. Tem que ter alguém para a produção da semente, para que ela possa virar grão”.

Em Pinheiral, por exemplo, serão distribuídas ramas de batata-doce, para que a prefeitura  faça uma unidade de multiplicação, a fim de suprir os produtores locais para que deem seguimento ao projeto. A Embrapa faz o acompanhamento de todo o processo, inclusive medindo o interesse e a satisfação dos próprios agricultores diante dos resultados obtidos. “Porque, por mais nutrição que tenha esse produto, o agricultor não vende zinco, nem ferro. Ele vende quilo por hectare”, ressaltou. O que a Embrapa faz é acrescentar ao produto a parte nutricional.

Itaguaí, por exemplo, já tem, desde 2010,  uma Unidade Demonstrativa de Cultivos Biofortificados instalada na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca. Juntamente com as escolas municipais parceiras da Rede BioFORT, essa unidade já atende a cerca de 20 mil crianças da região, informou a assessoria de imprensa da Embrapa.

A deficiência de micronutrientes, conhecida como “fome oculta”, afeta uma em cada três pessoas no mundo. Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revelam que somente a deficiência de vitamina A atinge 30% da população infantil global. No Brasil, esse número é 13%. José Luiz Viana de Carvalho  informou que o maior problema no Brasil, entretanto, é representado pelo baixo teor de ferro e zinco.  

Ele estimou que pelo menos 30% dos brasileiros têm algum tipo de deficiência nutricional. “De alguma forma, a gente ainda tem problema de anemia, até por alimentação errada”. Carvalho criticou  o vício do lanche rápido, em substituição ao tradicional jantar, entre as famílias. “É aquela pizza, aquele cachorro-quente”.

A escolha de cultivares com maiores teores de ferro, zinco e pró-vitamina A se deu porque, segundo Carvalho, “essas são as maiores carências mundiais em relação à fome oculta”. Outra seria a carência de iodo, “mas esta já está sendo bem atendida pelo programa do sal, que deu muito certo no mundo”, lembrou o pesquisador.

No Brasil, os estados que apresentam maior carência nutricional são o Maranhão e Sergipe. Por isso, eles foram os primeiros a receber os projetos de alimentos da Rede BioFORT. As ações já se expandiram  para o Piauí, Minas Gerais e o Rio de Janeiro e começam a entrar também no Espírito Santo. “Vamos montando parcerias e vamos abrindo (o leque)”, explicou Carvalho. A RedeBioFORT está presente ainda em cerca de 40 países da América Latina, do Caribe, da África e Ásia. “É uma grande aliança mundial”, disse.

Edição: Graça Adjuto

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