Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O Ministério Público do Trabalho (MPT) fechou acordo com nove cooperativas de transporte do município de São Paulo para a regularização trabalhista de cerca de 19 mil profissionais - motoristas, cobradores, supervisores e fiscais de linha - que trabalhavam sem carteira assinada. A assinatura foi anunciada hoje (17).
Além da formalização dos trabalhadores, as cooperativas terão ainda de pagar R$ 11,6 milhões de indenização por dano moral coletivo. No entanto, a prefeitura de São Paulo – que faz as licitações para a escolha das cooperativas – e a São Paulo Transportes (SPTrans) – que gerencia o transporte coletivo – não quiseram participar do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e demais acordos judiciais.
“O município é sim responsável, não o principal, mas também responsável [pela informalidade no setor], já que é ele que vem contratando. No fundo, no fundo, quem é o contratante é o município. Ele faz a licitação. O dono da obra é o município de São Paulo”, destacou o procurador regional do Trabalho José de Lima Ramos Pereira, em entrevista à imprensa. As irregularidades apontadas pelo MPT tiveram início em 2002.
Na Justiça, o MPT cobra R$ 50 milhões da prefeitura e da SPTrans por danos morais coletivos. Além disso, pede que elas sejam proibidas de contratar ou permitir que cooperativas operem o sistema sem o registro do contrato de trabalho de seus empregados. O julgamento da ação está marcado para 4 de outubro.
“É até impensável que na maior cidade do país a gente encontre uma situação peculiar dos rincões brasileiros. Trabalhadores na verdadeira informalidade sob o patrocínio do Poder Público”, destacou o procurador João Batista Machado.
De acordo com o MPT, o acordo com as empresas prevê que até o mês de outubro de 2014 a situação dos trabalhadores esteja regularizada. Segundo o órgão, os profissionais que se sentirem prejudicados por ter trabalhado informalmente poderão ingressar na Justiça com pedidos individuais de indenização.
“Se você não tem registro, você não tem controle de jornada. Quem é registrado tem o ponto, tem o limite de jornada a ser trabalhada. Se a pessoa não tem registro, muitas vezes, o empregador exige jornadas extremamente extensas. Isso coloca em risco não apenas a vida do trabalhador, mas também a dos passageiros transportados e de toda a coletividade”, destacou.
Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes e a SPTrans disseram que a competência de fiscalizar as relações trabalhistas é do Ministério do Trabalho e Emprego. "A relação de trabalho é entre a cooperativa e o cooperado, não é entre o Poder Público e o executor do serviço", diz.
A nota ainda ressalta que o último edital lançado buscava impedir a informalidade no transporte da cidade. "Recente edital, cancelado para debate com a sociedade civil sobre o novo modelo de licitação para o transporte público na cidade, já previa a adoção de práticas para coibir clandestinidade e irregularidades trabalhistas no sistema, como a aplicação de elevadas multas e de penalidades que incluiriam até mesmo a possibilidade de rescisão contratual".
Atualizada às 21h50 para acréscimo de informação
Edição: Aécio Amado
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. É necessário apenas dar crédito à Agência Brasil