Militares perseguidos relataram dificuldades para conseguir emprego durante a ditadura

13/08/2013 - 16h57

Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Dois militares que foram perseguidos pela ditadura e participaram de associações que lutaram pela anistia prestaram depoimento na manhã de hoje (13) para a Comissão Nacional da Verdade e para a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro. Ambos são membros da Unidade de Mobilização Pela Anistia (Unma) e também contaram como foi a perseguição fora dos quartéis, com dificuldades para conseguir emprego.

O primeiro a depor foi Joaquim Aurélio de Oliveira, que estava prestes a ser promovido a cabo da Marinha, e foi preso por participar de uma assembleia permanente no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, contra a prisão de membros da associação dos marinheiros. "A Marinha considerou motim e fomos julgados e condenados".

Joaquim chegou a ser mantido no Complexo Penitenciário de Bangu, com presos de alta periculosidade. Ele passou cerca de sete meses na prisão comum até ser enviado ao Presídio de Ilha Grande, onde ficavam os presos políticos. No total, foram dois anos e 27 dias de cárcere, período em que relatou ter testemunhado assassinatos e quase ter morrido em uma greve de fome de 16 dias para ser transferido para o "continente", onde teria mais acesso à família, que só o visitou uma vez.

Ao sair, no entanto, contou que a perseguição continuou, pois não conseguia emprego em órgãos públicos, como a Petrobras e a subsidiária Petroflex, apesar de ter sido aprovado em concurso para ambas, por sua formação de eletricista. Joaquim só foi reintegrado à Marinha em 1991, por uma decisão judicial e hoje é suboficial da reserva.

O segundo a depor foi Wanderlei Rodrigues da Silva, presidente da Unma, que foi expulso da Marinha e não chegou a ser preso, mas teve as mesmas dificuldades para conseguir emprego. "Quando eu saí da Marinha, não tinha onde morar. Tive que ser alojado na casa da irmã de um amigo, no Méier, e, para buscar trabalho, tinha que ir andando até o centro, porque não tinha como pagar a condução", conta ele.

"Você era cortado e diziam que você era subversivo e não tinha capacidade de viver em grupo. Alguns colegas se suicidaram por não resistirem a isso", contou Wanderlei.

Quando conseguiu trabalho, na multinacional Olivetti, na qual se aposentou, Wanderlei quase perdeu oito meses, depois que começou a trabalhar. Uma carta da Marinha foi enviada ao escritório, com uma recomendação de que todos os ex-marinheiros expulsos da Força não poderiam ser admitidos. Por engano a carta chegou a ele próprio: "Recomendação da Marinha naquela época era ordem. Rasguei a carta e queimei. Por isso consegui trabalhar lá por 27 anos e me aposentei. Depois de me aposentar, me juntei à Unma na luta para garantir os direitos dos anistiados políticos, porque ainda não foi concluída a nossa anistia", observou.
 
Edição: Valéria Aguiar

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