Moradores de rua temem retorno de agressores

04/08/2013 - 18h23

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A notícia da morte de Edivan da Lima Silva, 48 anos, fez crescer o medo entre os moradores de rua que costumam passar os dias na praça do Guará I (DF) onde, na madrugada da última quinta-feira (1), Silva teve o corpo incendiado.

Comerciantes e vizinhos da praça onde Silva dormia junto com outros três moradores de rua lamentaram o crime. Eles disseram que a vítima vivia no local há muito tempo, era conhecida de todos e não tinha inimigos.

“Isso é macabro. Foi uma covardia o que fizeram com ele [Silva]”, disse à Agência Brasil o corretor de seguros Roberto dos Santos e Silva. Disse que conhecia o morador de rua desde que se mudou para o prédio em frente ao quiosque onde o crime ocorreu e onde ainda é possível ver as marcas das chamas na parede. Silva é a sexta vítima da violência praticada contra moradores de rua do Distrito Federal este ano. 

De acordo com o corretor, é difícil encontrar na vizinhança quem tivesse queixas sérias sobre a presença do grupo que há anos se reúne e vive na praça, sem, segundo ele, causar transtornos a ninguém. Opinião compartilhada pela dona de casa Conceição Passos Puccini, que há 12 anos mora em uma casa em frente à praça.

“Eles são tranquilos, não mexem com ninguém. Está vendo esta praça neste estado, precisando de reparos, de ser limpa? Pois só não está pior porque eles ajudam a cuidar dela. Às vezes, algum de nós [vizinhos] dá pra eles um dinheirinho qualquer para que recolham os papéis, arranquem o mato, tirem o lixo”, contou a dona de casa, lembrando que, na véspera de sua morte, Silva pediu a ela “um punhado” de arroz cru. “Eu disse que tinha um pouco cozido, mas ele disse que preferia cru porque queria cozinhar para os amigos. Ele era muito tranquilo”.

Já o comerciante Antonio Batista de Oliveira, que há 13 anos mantém um bar funcionando em plena praça, Silva era muito conhecido e requisitado por moradores do bairro que precisavam de alguns pequenos serviços. “Todo mundo aqui gostava dele e muitos já o conheciam quando ele ainda tinha um barraco lá pra baixo [do Guará 1]. Ele era carroceiro. Bebia a pinguinha dele, mas, que soubéssemos, não usava mais nada e não arrumava confusão”.

Pessoas ouvidas pela reportagem contaram ter ouvido do próprio Silva a história de que ele passou a viver nas ruas após ter sido despejado de um barraco que construiu e ocupou por muito tempo, em uma área pública próxima à praça. Segundo essas pessoas, sem família no Distrito Federal e sem ter para onde ir, Silva passou então a viver no local onde foi atacado. A versão inicial das testemunhas, segundo a Polícia Civil, é que três homens encapuzados se aproximaram do local onde os quatro moradores de rua dormiam, jogaram algum tipo de material inflamável que atingiu principalmente Silva, atearam fogo e fugiram.

Alguns entrevistados também relataram que, poucos dias antes do crime, alguns dos integrantes do grupo que vive na praça onde Silva foi incendiado teriam brigado com moradores de rua que se concentram em outro local. Fato que, se confirmado, pode reforçar a principal suspeita da Polícia Civil. Responsável pelo caso, o delegado Jeferson Lisboa Gimenes disse, no mesmo dia do crime, que a principal hipótese a ser investigada é que o crime tenha sido motivado por uma briga entre moradores de rua, mas que o alvo não era Silva, e sim um outro homem que conseguiu fugir.

Temendo a exposição, os oito moradores de rua com quem a reportagem conversou pediram que seus nomes não fossem divulgados. A maioria disse não ter suspeitas sobre quem pode ter ateado fogo em Silva, mas todos disseram temer que os responsáveis voltem. Um dos que presenciaram o crime lembrou que, após conseguir apagar as chamas, Silva dizia que tinha sede e pedia que não lhe deixassem morrer.

Edição: José Romildo
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