Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - Parentes de trabalhadores mortos no acidente ocorrido em 28 de março, no porto que a mineradora multinacional Anglo American opera em área próxima a Macapá (AP) divergem quanto ao tratamento dispensado pela empresa às famílias das vítimas.
A professora Roseane dos Santos, viúva de Pedro Coelho Ribeiro, um dos quatro trabalhadores declarados mortos (dois continuam desaparecidos), não só critica a Anglo American, como sugere que órgãos públicos responsáveis por fiscalizar o empreendimento podem ter sido omissos.
“Este porto tem 50 anos e já houve acidentes como este antes. Sabiam que o terreno não ia suportar o peso do minério armazenado e, ainda assim, não fizeram nada. Depois da tragédia, chegaram a dizer que uma grande onda tinha atingido o píer? Como uma onda dessas ia acontecer em um braço de rio? E sem atingir outros locais próximos?”, questiona Roseane.
Ela endossa a hipótese que o volume de minério armazenado pela empresa excedia a capacidade das instalações portuárias, o que teria provocado o deslizamento de terra e minério que arrastou caminhões, guindastes, o escritório da empresa e seis funcionários para o fundo do Rio Amazonas. Dois trabalhadores continuam desaparecidos. Para o delegado José Rodrigues Neto, responsável pelo inquérito, ainda é cedo para falar em responsabilização penal e se o volume de material armazenado foi determinante para o acidente.
Entre os quatro trabalhadores mortos, Ribeiro foi o último a ser localizado. Sua identidade só foi confirmada pela Polícia Técnico-Científica do Amapá (Politec) no final de junho. Como a questão da indenização ainda está sendo resolvida, Roseane disse que está dependendo da “boa vontade” da empresa até para fazer as compras do mês.
“Representantes da empresa vieram à minha casa no fim do mês passado e pediram um prazo de dois meses para nos ajudar, mas a situação é muito complicada. Eu trabalho, mas meu marido era o provedor da casa e tenho duas filhas pequenas”, comentou a professora, que contratou um advogado para tratar da questão indenizatória. “Nenhum dinheiro vai reparar a morte do meu marido, mas temos duas filhas crianças e, além de querer a condenação dos responsáveis, preciso pensar no futuro delas”.
Já o estudante Diego Marques de Souza, que perdeu o pai Manoel Moraes de Azevedo, 47 anos, disse que, até o momento, os contatos entre o advogado da família e os representantes da empresa vêm evoluindo bem. Azevedo foi uma das primeiras vítimas a ser resgatada sem vida e reconhecida, quase três meses antes do marido de Roseane ser identificado.
“O auxílio-funeral [a que todos os empregados da empresa têm direito] foi logo liberado. Nosso advogado agora está discutindo o valor da indenização e não comentou problema [algum]. Até agora, parece haver boa vontade por parte da empresa. Espero que continue assim, que não haja mais problemas, porque a situação em si já é bastante triste”, comentou o estudante de 26 anos.
Assim como Roseane, Diego diz esperar que alguém seja responsabilizado. “Estamos esperando que as perícias apontem o que houve e então os responsáveis vão aparecer. Disseram que o acidente podia ter sido causado por um fenômeno natural, mas o que houve foi um desastre [previamente] anunciado”.
Além de Ribeiro e Azevedo, morreram no acidente Eglison Nazário dos Santos e Josmar Oliveira Abreu. Os dois trabalhadores que continuam desaparecidos são Benedito Cláudio Lopes dos Santos e Maicon Carvalho. Procurada ontem (25), a Anglo American ainda não se manifestou sobre o assunto.
Edição: José Romildo
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