Historiadores observam acentuado sentido político e social nos discursos do papa Francisco

25/07/2013 - 20h46


Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O historiador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese, disse hoje (25) à Agência Brasil, estar “particularmente surpreso” com os discursos feitos até agora pelo papa Francisco no Rio de Janeiro, onde participa da Jornada Mundial da Juventude, e em Aparecida.

Na análise de Chevitarese, são discursos muito acentuados do ponto de vista social e econômico. “De alguma maneira, nós estamos percebendo uma certa quebra em um ritmo ditado por João Paulo II e por Bento XVI de evitar politizar questões relacionadas à miséria, à pobreza, a um anseio por demais excessivo ao materialismo”.

O professor da UFRJ destacou o tom mais crítico que percebeu no papa Francisco em relação a um sistema capitalista que prioriza o dinheiro e os bens materiais. “Ele tem feito críticas que eu gosto muito de ouvir e que, de alguma maneira, estavam esquecidas. Achei muito interessante isso”.

Para o historiador Oswaldo Munteal, a visita do papa ao Brasil é marcada pela diplomacia institucional do Vaticano em relação à América Latina, aproveitando o fato de Francisco ser o primeiro papa da região. “Eu sinto o discurso dele muito articulado a essa questão. Tanto que ele disse que a Igreja tem que estar nas ruas, se não se torna uma organização não governamental [ONG]”. Munteal é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e da Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), além de pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Segundo Munteal, essa foi uma mensagem não só teológica, mas política, muito importante do papa. Ressaltou que Francisco vem defendendo uma maior presença da Igreja nas camadas populares, ou seja, um caminhar com os oprimidos, o que reforça a ideia do teólogo Leonardo Boff, quando ainda exercia o sacerdócio.

O professor da Uerj destacou ainda que o papa traz uma mensagem de ordem política interna do Vaticano e também do Vaticano para o mundo. Trata-se do primeiro papa jesuíta da história, disse. Comentou que os jesuítas têm uma marca muito significativa da diplomacia, da capacidade de adaptação e de conhecer o outro. “Esse é outro aspecto importante do papado, que é a ligação com os pobres. Ele tem reforçado isso, no lado institucional, no contexto latino-americano”.

Oswaldo Munteal destacou também a fé nos jovens que o papa transmite em seus discursos, embora cobrando que esses jovens “botem também fé no Cristo. O caminho é de mão dupla”. Para o professor, o papa está deixando claro que os jovens podem expor suas ideias por meio de manifestações, mas que esses devem ser posicionamentos feitos dentro da ordem política.

Outro ponto de destaque nas mensagens do papa é a postura antidrogas, avaliou o professor. O discurso, repetido em duas ocasiões no país, aponta que a discussão em torno da liberalização das drogas, que está ganhando espaço na América Latina, não resolve o problema. A Igreja se posicionou contrária a essa política.

Uma mensagem do papa Francisco apontada como importante pelo historiador Oswaldo Munteal é a “limpeza” que ele está fazendo dentro da Igreja Católica, incluindo casos de agressões, de violação dos direitos humanos em relação aos próprios eclesiásticos. “O que o papa está dizendo é o seguinte: eu quero também ver na sociedade a faxina que nós estamos fazendo internamente. Acho que isso serve para a discussão da ética, que está tão em voga, mas de uma maneira em que o papa não se indispõe com os governos locais”. Ao contrário, disse, os discursos do papa têm sido feitos no sentido de reforçar os governos locais.

 

Edição: Aécio Amado

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