Igreja mudou desde a primeira JMJ e deve buscar agenda social, diz cientista político

21/07/2013 - 16h38

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – No período entre a primeira Jornada Mundial da Juventude (JMJ), criada em 1995 pelo papa João Paulo II, e a que começa na semana que vem no Rio de Janeiro, houve mudanças na Igreja Católica no Brasil, entre elas a redução no número de fiéis. A avaliação é do professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Ricardo Ismael.

"Hoje a Igreja Católica tem uma disputa maior. Outras opções religiosas avançaram no Brasil e essa diversidade religiosa é natural. A convivência entre as religiões é o que deve acontecer. A Igreja Católica, no Brasil, vive uma realidade diferente do que era há 20 anos, quando o número de adeptos era muito maior", analisou.

Para o professor, vários fatos importantes marcaram o período, desde a eleição do presidente norte-americano Barack Obama, até a falta de solução para a pobreza extrema no mundo. "Há ainda milhares de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia. É evidente que a agenda social que ainda não avançou é uma preocupação não só para a Igreja Católica como para os governantes do mundo. Neste momento em que o papa chega ao Brasil e, certamente, depois de suceder Bento XVI, que era de uma ala mais conservadora, a grande expectativa é que a Igreja abrace uma agenda mais voltada para as questões sociais", explicou.

O cientista político acredita que a vinda do papa pode estabelecer uma nova agenda, com foco nas questões sociais. "Se ele fizer isso, vai contribuir muito não só para o que ainda precisa ser resolvido no Brasil, como em outras partes do mundo, que são muito esquecidas nos debates. A eleição do papa Francisco, que tinha um trabalho nas periferias da Argentina, aponta para a ideia de [a Igreja] se aproximar mais das populações e dos setores mais pobres da economia", avaliou.

Para o pesquisador, há uma coincidência no período da vinda do papa Francisco para a JMJ e as manifestações populares que começaram em junho no Brasil, com forte presença de jovens que cobram dos governantes ações concretas para melhoria nos serviços públicos e combate à corrupção. "É evidente que essa é uma questão interna do Brasil e o papa não pode resolver este problema. O papa tem um trabalho na periferia de Buenos Aires, que faz com que ele possa dialogar com os setores mais progressistas e preocupados com a questão social no Brasil. Entendo que é uma primeira visita e que a principal razão da vinda dele é o encontro mundial da juventude, provavelmente, deve ter uma mensagem aos jovens. Em razão das manifestações no Brasil terem se iniciado com os jovens, que estão reivindicando um país melhor, não vejo dificuldade de ele falar para esses jovens", contou.

Para o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, a vinda do papa é um momento histórico para o Brasil e para o Rio de Janeiro. Segundo ele, as jornadas têm ajudado os jovens a se tornarem protagonistas em todos os lugares do mundo. "Tenho certeza que vai continuar ajudando muito os jovens a construírem um mundo melhor", completou.

Tempesta também observa uma concordância entre os objetivos da JMJ e as manifestações no Brasil. "Dentro do plano de Deus podemos ver que também a Igreja quer construir um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno, baseado em pessoas que amam o próximo e querem perdoar e não ter rancor. É um trabalho muito bonito que a jornada e o papa trazem.  

Edição: Denise Griesinger

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