Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O papa Francisco I deve trazer mudanças para a administração da Santa Sé e do Vaticano, mas os católicos não devem esperar por mudanças profundas em questões doutrinárias. A avaliação é da professora de teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Maria Clara Bingemer.
Segundo ela, é esperado que o papa resolva problemas administrativos que assolaram o Vaticano no último pontificado, como a gestão do Banco do Vaticano, imerso em denúncias de envolvimento com lavagem de dinheiro, e o vazamento de documentos internos da cúpula da Igreja Católica, no episódio conhecido como Vatileaks.
“Tudo isso denota uma administração que está fazendo água. Então acho que ele pode botar ordem na casa, sim. Pode-se esperar que essas questões administrativas sérias sejam enfrentadas competentemente pelo novo papa e a equipe que ele formar. Ele tem experiência de governo, já foi provincial [líder regional] dos jesuítas, foi muito tempo arcebispo de Buenos Aires”, disse.
A formação de jesuíta de Francisco I também deve trazer novidades ao papado. Segundo Bingemer, que é especialista na filosofia do fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola, o pontífice pode, inclusive, aproximar o papado dos fiéis em todo o mundo.
“Toda a formação dele veio dos exercícios espirituais de Santo Inácio. A formação jesuíta tem muita ênfase na disciplina, na austeridade de vida, na sobriedade, na simplicidade, de estar perto dos pobres. Ele já mostrou isso em seu primeiro encontro com o povo. Ele se apresentou como bispo de Roma e não como papa. Sua cruz peitoral não era rica, como normalmente são as cruzes dos papas. Era de ferro, despojada. Ele estava só com a veste branca, sem sobrepeliz ou estola. Só botou a estola para dar a bênção e depois tirou. Mas também é um homem muito bem formado, intelectualmente. A formação jesuíta leva 15 anos”, explica Bingemer.
Entretanto, com relação à doutrina católica, não é possível esperar muitas mudanças. “Acho que ele é alinhado com a linha teológica dos papas anteriores. Não é um progressista. Não é um amigo da Teologia da Libertação, nem de correntes muito progressistas. Sobre a questão da moral sexual, que é uma das questões em que as pessoas mais questionam hoje a Igreja, como o aborto e o casamento gay, tampouco devemos esperar abertura. Ele teve inclusive um embate com a Presidência da Argentina por causa do matrimônio gay”, ressaltou.
Edição: Denise Griesinger
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