Abordagem na Cracolândia busca o convencimento do dependente

21/01/2013 - 17h05

Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A abordagem aos dependentes químicos que circulam pela região da Cracolândia na capital paulista, feita por voluntários da Missão Belém, uma entidade que tem convênio com o governo estadual, vai priorizar o convencimento do usuário de drogas. Segundo Eliezer Dias, coordenador da Missão Belém, os dependentes atendidos só serão levados ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod) para possível internação involuntária, quando corresponderem a casos muito graves.

Hoje pela manhã (21), os voluntários da entidade conseguiram convencer dez dependentes, entre eles uma adolescente de 16 anos, que precisou ser carregada. Eles estavam na Praça Júlio Prestes, região central da cidade. De acordo com o coordenador da Missão Belém, o número de pessoas levadas para a internação costuma ser maior, uma média de 20 por dia.

Para Eliezer, a presença da imprensa hoje e a falta de informações atrapalharam a ação de convencimento, que também é feita por agentes municipais de saúde. “Porque eles [dependentes] imaginam que as pessoas vão chegar com injeção e dar injeção neles. Que a polícia vai pegar. Eles estão esperando só o ataque. Eles [dependentes] falaram que vão revidar”, relata.

Eliezer explica que, desde o início do convênio firmado entre a entidade e o governo do estado em dezembro do ano passado, foram retiradas da Cracolândia em torno de 500 pessoas. “O nosso diferencial, para a gente conseguir tirar 20 pessoas por dia, é que nós tivemos as mesmas dificuldades que eles. Muitos de nós estivemos nessa situação, passamos por um tratamento e hoje estamos aqui, trabalhando”, explica. A entidade existe há 7 anos e tem capacidade para atender 1,5 mil dependentes químicos, divididos entre 113 casas no estado de São Paulo.

Eliezer se mostrou contrário à medida de internação involuntária ou compulsória, estabelecida por meio da parceria do governo estadual e do Poder Judiciário. “Nós só trabalhamos com o convencimento. Acho que nada forçado dá certo. Se a pessoa não quiser, não vai dar certo. A pessoa vai ficar seis meses, e aí? E quando ela sair? [Após] só tomar remédio, ela pode sair muito mais descontrolada do que estava”, disse.

A abordagem dos voluntários, explica o coordenador, é feita de maneira sutil. “A gente consegue falar a mesma língua que eles, vai falando sobre futebol, sobre alguma coisa interessante, até chegar no ideal, que é a família. Quando a gente fala dos filhos, da mulher, dos pais, da mãe, eles costumam chorar e falar que não tem mais jeito. Mas aí gente mostra o contrário, começa a incentivar, para se recuperar, arrumar um trabalho, deixar Deus guiar a vida deles”, disse.

Um dos usuários que aceitaram ser levados hoje pela entidade foi Alex Sandro Lima Costa, de 23 anos, ajudante geral. Usuário de crack, cocaína, maconha e álcool, Alex frequenta a Cracolândia há 12 anos. Ele conta que tentou parar de usar drogas diversas vezes e que chegou a tentar suicídio sete vezes.

Alex reconhece a importância da internação, mas defende que ela ocorra de forma apenas voluntária. “Eu não concordo com isso [internação compulsória], porque se a pessoa não for porque ela quer, ela não vai conseguir nada. Agora, se ela for por conta própria, até que ela consegue parar com as drogas”, disse.

 

Edição Beto Coura

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