Proximidade com a cidade causou problemas sociais e culturais na Terra Indígena Dourados

10/01/2013 - 12h46

Alex Rodrigues
Enviado Especial

Dourados (MS) - Originalmente dividida em duas aldeias, a Bororó e a Jaguapiru, a Terra Indígena Dourados fica a poucos quilômetros do centro de Dourados, segunda maior cidade sul-mato-grossense. Quem não vive no município e passa pela região mal percebe onde termina o limite urbano e começa a área indígena, de 3,5 mil hectares (um hectare corresponde a dez mil metros quadrados, aproximadamente um campo de futebol oficial), onde vivem cerca de 14 mil índios kaiowás, ñandevas e terenas. Parte das famílias vive em casas de alvenaria próximas à rodovia, mas a maioria mora em barracos improvisados.

Além da falta de terras para o plantio, a proximidade com a cidade, causou a desagregação social e uma série de problemas sociais e culturais, como o alcoolismo, as disputas internas por poder, brigas, assassinatos e suicídios. Embora tenha sido identificada e demarcada ainda durante a primeira década do século passado, a Reserva Dourados só foi homologada em 1965.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dos 51 assassinatos de índios registrados em todo o país em 2011, 32 ocorreram no Mato Grosso do Sul, 14 dos quais em Dourados. Caso de Fátima de Oliveira, guarani kaiowá da aldeia Jaguapiru, morta por estrangulamento e, supostamente, vítima de abuso sexual. Ou de Romão Cunha Martins, também guarani kaiowá, assassinado dentro de casa, em Jaguapiru.

De acordo com o cacique Getúlio Juca de Oliveira, um dos líderes locais, o “confinamento” em uma área pequena para a manutenção do modo de vida indígena e a falta de perspectivas também leva os índios ao suicídio. O número de casos registrados não é preciso e, de acordo com o próprio cacique, há suspeitas de que algumas mortes tenham sido, de fato, homicídios.

“Tem caso de índio que se enforcou sentado no chão. Outro que se enforcou amarrando um paninho, quase um fiozinho, em um galhinho de árvore que não ia aguentar o peso de um homem adulto”, disse o cacique à Agência Brasil e à TV Brasil, reconhecendo, contudo, a ocorrência de suicídios que a comunidade associa ao desespero. “Por que índio está se matando? Tem uma coisa por trás para índio estar se judiando assim. Alguns cometeram suicídio. Talvez sentiram que ninguém tomava providência, que ninguém dava apoio, que não conseguiam o que queriam e acabaram se suicidando”, diz o cacique.

“Pode ter vários tipos de trabalho de apoio [social]. Aqui, sem ser terra, nada vai resolver. A dificuldade e a violência estão crescendo porque tem muita gente aqui”, acrescentou o cacique, explicando que os índios reivindicam que a União reconheça e demarque ao menos nove tekohas (territórios sagrados) onde, garante, viveram seus antepassados.

Oliveira também destaca a necessidade de que os não índios sejam retirados do interior da Reserva Dourados. “A violência aqui dentro também aumentou porque os não índios entraram na aldeia trazendo maldade. Antes nós não tínhamos essas drogas, nem vício em bebida para fazer maldade. Tínhamos nossas festas, nossas bebidas e comidas, mas vivíamos tranquilos", disse o cacique, referindo-se a uma das fazendas de soja que cercam a terra indígena e se queixando de que, com a proximidade, os alimentos cultivados pelos índios, bem como os animais, têm sido contaminados pelo uso intensivo de agrotóxicos nas propriedades vizinhas, algumas delas arrendadas pelos próprios índios, que não têm meios para produzir em suas terras.

Para combater a violência e o aliciamento de índios, principalmente dos mais jovens, por traficantes de drogas da região, a Força Nacional vem atuando na reserva desde junho de 2011. "O problema lá é de segurança pública, [causado] pelas drogas, alcoolismo e brigas", diz o capitão da Força, José Roger Duarte.

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Edição: Tereza Barbosa