Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro- Este será o segundo Natal sem o tradicional bonde, principal meio de transporte de Santa Teresa, no centro do Rio, que parou de funcionar depois de um grave acidente em agosto de 2011. Mas o artesão mais famoso do bairro, que ficou conhecido por suas reproduções em miniatura do bondinho, levou Papai Noel para passear em uma réplica, hoje (23), para lembrar a falta que o bonde faz ao bairro.
Feito de madeira, o veículo sobre rodas é menor que o bondinho original e foi concluído nos últimos dias, ao ganhar a pintura amarela e os corações em vermelho, na carroceria, tal qual o bonde original. A réplica do bondinho tem capacidade para transportar dez crianças, e foi movimentada por moradores do bairro. Durante o trajeto, Papai Noel distribuiu doces.
O veículo saiu no início da tarde e passou pelos antigos pontos Dois Irmãos, Curvelo e Largo da Neves, partindo da Rua Leopoldo Fróes, do ateliê de Getulio - um bonde em tamanho quase real, parado na rua, que é também a loja do artista. É desse ateliê que saem as peças feitas com tampinhas de garrafas, restos de madeira e sucata.
“A minha história é o bonde. A primeira peça que eu fiz em Santa Teresa foi o bonde e meu deu sucesso. Sou considerado pioneiro na maquete popular”, conta Getulio Damado, que usa material reciclável em suas composições. A peça está em exposição no Centro Cultural Parque das Ruínas, em Santa Teresa, e ele diz que tem valor simbólico, por isso, não vende de jeito nenhum.
Em 2013, quem prepara homenagem ao bondinho é o bloco de carnaval do bairro, o Carmelitas, cujo tema da camiseta é uma releitura da obra O Grito, de Edvard Munch. “O desenho simboliza a perplexidade diante da falta do bonde por dois carnavais. É uma perplexidade que não é só nossa, é de todos moradores, e tentamos refletir isso”, disse o presidente do bloco Alvanísio Damasceno.
O bloco Carmelitas aborda tradicionalmente questões de Santa Teresa como o casario, as ladeiras, o convento da Ordem das Carmelitas e, em 2012, homenageou os motorneiro, que morreu no acidente do bonde de 2011. “Falamos das coisas negativas e positivas”, disse, lembrando que 200 ritmistas do bloco usaram adereços do bonde neste ano.
Na última terça-feira (18), os moradores protestaram durante a retirada, da oficina do bairro, da carcaça de um dos bondinhos pela empresa T-Trans. A companhia ganhou a licitação do governo estadual para fazer a reestruturação do sistema e deve entregar os bondes reformados em 2014. A população quer ter certeza de que os veículos não serão descaracterizados.
Edição: Tereza Barbosa