Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio Janeiro- Os carros estacionados sobre os trilhos por onde passavam os tradicionais bondinhos de Santa Teresa, não deixam dúvidas: o veículo cartão-postal do bairro, que transportou turistas e moradores pelas ladeiras sinuosas do bairro por 100 anos, não circula mais. Desde 2011, quando um grave acidente deixou seis mortos e 50 feridos, o transporte é feito por ônibus, que recebem uma série de reclamações dos moradores do bairro.
As insatisfações são as mesmas em diversos pontos: poluição, má conservação e perigo. “É um risco cotidiano de vida”, diz a professora Ana Cláudia de Oliveira, moradora do bairro, enquanto espera um ônibus no Largo do Guimarães. Ela usa o transporte todos os dias para ir e vir do centro e já fez várias denúncias às autoridades, sem resultado.
“Já vi pessoas caírem e se machucarem gravemente, principalmente idosos, inclusive eu. Os motoristas arrancam bruscamente, estão extremamente cansados e estressados”, contou Ana Cláudia. O problema se agrava, avaliam os passageiros que estavam no mesmo ponto, com a dupla função de dirigir e cobrar a passagem, que atrapalha na concentração do motorista.
Os moradores não gostam nem mesmo do ônibus chamado de bonde, porque é pintado de amarelo como o original, cuja tarifa é R$ 0,60, (o mesmo preço do bonde e um quinto do preço oficial no município). “Outro dia fiquei uma hora e 20 minutos esperando, porque não acho justo pagar R$ 2, 75 para andar 700 metros (de ladeira)”, criticou um morador que não quis se identificar.
Instalado no bairro desde a década de 1970, o artista plástico Getúlio Damado, que se tornou símbolo de Santa Teresa com sua arte de material reciclável, também denuncia. Do seu ateliê, uma ladeira paralela a um ponto de ônibus, ele é enfático ao criticar o excesso de velocidade dos veículos. “Eles (ônibus) correm demais da conta, fazem só loucura, é um risco”, conta.
Com a suspensão dos bondes para reforma do sistema até 2014, os ônibus estão entre os principais problemas do bairro, avalia a Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast). “Os bondes eram o marcapasso do trânsito em Santa Teresa porque a velocidade deles determinava a dos demais veículos, que não podiam passar por cima”, afirmou o diretor Jacques Schwarzstein.
O bonde, relembra Jacques, além de ser mais rápido que os ônibus, também demarcava vagas para o estacionamento e evitava problemas no tráfego de carros e de pedestres, como ocorre nos finais de semana. “Ninguém parava onde o bonde ameaçasse passar por cima”, lembrou. Segundo ele, por vezes, deixou latarias de carros arranhadas para conseguir passar.
A Secretaria Municipal de Transportes, responsável pela concessão das linhas de ônibus, pretende instalar radares para impedir que os ônibus rodem acima de 40 quilômetros por hora, em Santa Teresa. A expectativa é que os equipamentos, assim como placas de sinalização para pedestres e de motoristas, estejam funcionando a partir de janeiro de 2013.
Edição: Tereza Barbosa