Crise espanta imigrante de Portugal, mas há brasileiros que optam por ficar no país

22/12/2012 - 17h37

Gilberto Costa
Correspondente da EBC

Lisboa – Portugal está vivendo um dos piores momentos econômicos desde a Revolução dos Cravos em 1974 por causa da crise econômica na zona do euro; e a perspectiva é que esse cenário se estenda por 2013 – ano em que o próprio governo prevê desemprego (perto dos 20%) e recessão (queda de 1% do Produto Interno Bruto e diminuição de 2% no consumo das famílias).

Além da diminuição da riqueza produzida pelo país e do bem-estar das famílias (afetadas com aumento de impostos e redução de gastos de proteção social a partir do próximo mês), Portugal corre o risco de sofrer com a diminuição da população – muitos imigrantes podem deixar o país em decorrência da crise econômica.

Entre 2001 e 2011, a população de Portugal cresceu em torno de 200 mil habitantes, graças aos imigrantes atraídos pelas perspectivas econômicas do país, como participante da Comunidade Europeia. Só de imigrantes brasileiros foram 77 mil pessoas, que formam a principal colônia de estrangeiros em Portugal (cerca de 111 mil brasileiros, mais de um quarto dos imigrantes).

Esses números podem diminuir acentuadamente. Segundo o serviço de estrangeiros de fronteiras do governo português, a população imigrante encolheu em quase 2% entre 2010 e 2011.

Conforme dados apurados pela Agência Brasil com a Organização Internacional de Migração, a cada mês cresce o número de pessoas sem condições financeiras que buscam apoio para a reintegração ao país de origem. Em setembro, o último mês com dados consolidados, mais de 1.400 pedidos de retorno foram feitos. De cada dez solicitações de regresso naquele mês, oito foram feitas por brasileiros.

Apesar das estatísticas, é fácil encontrar pelas ruas de Lisboa, brasileiros que optam por permanecer em Portugal e não cogitam a possibilidade de voltar. É o caso da empresária de Itabuna (BA), Nilzana Ribeiro, de 40 anos, dona de um café nas proximidades da Assembleia da República.

Há 20 anos em Portugal, com quatro filhas nascidas no país, ela prefere viver deste lado do Oceano Atlântico. “É melhor estar aqui”, diz ao enumerar entre as vantagens as melhores perspectivas de vida para as filhas, “a qualidade do ensino” e a segurança.“Aqui não chegamos ao ponto de bala perdida”, compara, apesar de dizer que sente “falta do acarajé e da tapioca” e de garantir que não tem interesse em pedir cidadania portuguesa.

A cidadania portuguesa é para a diarista goiana Camila Barbosa, 33 anos, a principal razão para ela, o marido e os três filhos permanecerem em Lisboa. Pela segunda vez vivendo no país, espera que no final do próximo ano possa dar entrada no pedido para obter o registro português para os filhos. Camila admite voltar porque a mãe e os sogros estão doentes, mas ressaltou que o ideal seria continuar vivendo em Portugal e uma vez por ano ir ao Brasil. “O custo de vida aqui é menor”, resume.

Para o também goiano Marcos Paiva, estudante de 24 anos e que vive há sete anos em Portugal, “as pessoas vivem com ordenado menor em Lisboa do que em outra cidade do Brasil”. Além de menos despesa, a vida em Portugal abre perspectivas interessantes para ele que estuda direito e quer fazer o doutorado na Europa. Paiva não pensa em retornar, mesmo com as notícias de que o Brasil vive um bom momento econômico. “Já escutei isso e estive no Brasil recentemente. O país evoluiu, mas não deixou de ter uma grande pobreza”, salienta.

Para Mário Storch, de 46 anos, capixaba de Colatina (ES), há seis anos fora do Brasil, Portugal oferece uma vida melhor com possibilidades de qualificação e ascensão profissional. Ele que já trabalhou em cozinha de marisqueira é atualmente supervisor em um restaurante no maior shopping de Lisboa. Teve oportunidade de se qualificar em Portugal, em um curso de serviço de hotelaria que frequentou durante 15 meses.

Segundo Storch, os brasileiros são benquistos pelos empregadores em Portugal, mesmo na crise. “Outros patrões que me empregavam reconheciam que mão de obra como a brasileira não havia. Nenhum português queria estar dentro de uma copa fazendo o trabalho que eu fazia. Lavar tachos de um tamanho em que se poderia até tomar banho”, lembra, ao comentar a rotina no primeiro emprego em Portugal, quando trabalhava em um restaurante especializado em frutos do mar fora de Lisboa.

 

Edição: Carolina Pimentel