Agente de segurança se recusa a deixar casa em área de risco em Nova Friburgo

15/11/2012 - 17h05

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - "Eu não vou ficar pedindo favor. Não esteve por aqui em nenhum momento qualquer assistente social. A pouca ajuda que foi dada veio do pessoal da Defesa Civil, que não está preparada para isto. Mesmo com todo o risco eu vou permanecer aqui tomando conta do que é meu”.

Foi dessa forma, com lágrimas nos olhos, que o agente de segurança Ricardo Ribeiro, de 40 anos, protestou contra o que chamou de descaso das autoridades de Nova Friburgo com as famílias que ficaram desabrigadas na localidade de Três Irmãos, no distrito de Conselheiro Lafayette. O deslizamento de pedras que ocorreu na última terça-feira feriu pelo menos duas pessoas e levou à interdição de cerca de uma centena de casas.

Ribeiro garantiu que não deixará o local da tragédia nem abandonará suas coisas, mesmo consciente de que corre risco de morrer caso ocorra novo desabamento. “Deveria ter aqui um assistente social fazendo este papel e eu não vou ficar pedindo pelo amor de Deus para alguém me abrigar”.

O agente de segurança contou que, depois de perguntar se existem assistentes sociais em Nova Friburgo, recebeu como resposta que sim, “só que na folha de pagamento”.

Para Ribeiro, o deslizamento de terra na localidade de Três Irmãos foi fruto da incompetência política dos que são responsáveis por cuidar da cidade. “São três prefeitos na folha de pagamento, recebendo salário de R$ 18 mil cada um, e nós estamos sem governo”.

Segundo ele, isso acontece em um município que vende para o mundo a imagem de capital da moda, cidade colonial e que tem milhões retidos para construir um polo de modas no centro da cidade. “Mas que é o mesmo [município] que encobriu desde a última tragédia, em janeiro de 2011, quando dezenas de pessoas morreram, a gravidade da situação aqui no Três Irmãos”.

Solitário, hora fitando o vazio, hora os escombros deixados pela chuva - mas sempre com lágrimas nos olhos e uma atadura a encobrir os ferimentos na cabeça – o agente de segurança continuava revoltado com o que chamou de descaso das autoridades municipais com o povo.

“Você pode observar aqui a presença dos bombeiros, do pessoal da Defesa Civil e da Guarda Municipal - poucos é verdade -, mas não vê a presença sequer de uma ambulância. E se acontece alguma coisa com uma dessas pessoas, quem ajudará”?

Ribeiro relatou à Agência Brasil o momento em que a chuva começou a fazer estragos. Segundo ele, o primeiro deslizamento foi por volta das 6h e destruiu parcialmente uma casa. “Por volta de meio-dia estávamos conversando em um bar, chovia muito na hora, quando houve o segundo abalo. Nós corremos para nos proteger quando eu lembrei que algumas pessoas ainda estavam no local [do primeiro acidente]”.

Segundo ele, quando as pessoas voltavam para socorrer possíveis vítimas houve novo abalo e as pedras começaram a cair na direção de todos. “Foi o tempo de tentar correr e me proteger. Só que as pedras passaram por cima das casas e uma delas acertou minha cabeça”, disse.

Segundo o agente, três pessoas ficaram feridas, inclusive uma criança que estava na casa que ficou parcialmente soterrada pela manhã, “mas ela foi medicada e está fora de perigo, pois graças a Deus foram só escoriações leves”.

Ribeiro disse que a rocha já tinha fissuras e todos sabiam. Segundo ele, havia riscos e o desabamento era esperado, mas nenhuma providência foi tomada. “E o problema continua, pois a lasca de pedra é o que sustenta o resto da rocha e, se voltar a chover, vem tudo abaixo novamente”.

O agente contestou o número de 72 pessoas desalojadas, estimado pela prefeitura do município, mas admitiu que é difícil dizer quantas pessoas tiveram de deixar suas casas.

“É difícil estimar o número de desalojados, mas se você considerar que existem pelo menos 100 casas interditadas e se você coloca cinco pessoas em casa casa você tem aí por volta de 500 pessoas afetadas - morando em abrigos, em casas de parentes ou de amigos”.

Ribeiro disse que o que mais o incomodava era o fato de nenhuma autoridade ter aparecido no local para dar informações. “Mesmo os técnicos da Defesa Civil que aqui estão só ficam olhando para cima. As pessoas perguntam o que eu estou fazendo aqui, nesta chuva fina e eu respondo: o mesmo que a Defesa Civil - olhando pra cima e esperando as pedras caírem para poder fazer alguma coisa”.

Edição: Tereza Barbosa