Reversão da tendência de queda do PIB exige políticas em inovação, sugere economista da FGV

27/09/2012 - 18h58

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A diminuição, pelo Banco Central (BC), da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% para 1,6%, divulgada hoje (27), deve ser vista no médio e longo prazo, segundo o diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas, Rubens Penha Cysne. “Não adianta ficar olhando só o número do ano, mas tem que dar uma olhada mais ampla”, disse à Agência Brasil.

O número projetado pelo BC representa uma queda em relação à expansão média do PIB nos últimos cinco anos, que é 3,3%, ou nos últimos dez anos, entre 3,5% e 3,3%, declarou Cysne. “Representa uma queda, mas não é algo que deva ser alarmista, porque a uma queda no ano, provavelmente deverá, como tem acontecido nos últimos dez anos, se contrapor um aumento no ano subsequente”, disse.

Por isso, ele não acredita que a trajetória de longo prazo esteja se modificando. “Eu veria essa queda como uma coisa eventual a ser revertida no ano subsequente”. Da década de 1980 para cá, a trajetória de aumento do PIB tem sido essa (3,3%), ressaltou.

O economista da FGV avaliou, por outro lado, que essa média de 3,3% registrada nos últimos anos é muito baixa, em comparação ao que se vê em outras economias. “Principalmente se você observar que o Brasil está atravessando um período de três bônus”. Esses bônus são o dos recursos naturais não renováveis, entre os quais o gás e o petróleo da camada pré-sal; o bônus da população ativa, que está em seu máximo em relação à população total, o que deverá persistir até 2020; e o bônus resultante do fato de os preços dos bens exportáveis pelo Brasil estarem bastante elevados.

De acordo com Cysne, com esses três bônus, era de se esperar que a média de crescimento do PIB brasileiro fosse maior. Isso não ocorreu porque, segundo ele, o país precisa ter políticas inclusivas que permitam a inovação de forma descentralizada. “As pessoas precisam de instituições que as apoiem em suas inventividades”. Sustentou que para o Brasil realmente crescer mais, “é necessário que haja políticas que permitam que as pessoas, que estão hoje com 15,16, 18, 25 anos, possam planejar, em termos de terem garantia que podem iniciar um negócio, ter uma ideia, abrir uma firma, pegar um empréstimo, esse tipo de coisa”.

Segundo o economista, trata-se de um aprimoramento institucional no âmbito do cidadão, ou seja, uma política inclusiva. “Não vai conseguir passar de 3,3% [de expansão do PIB] ficando só atrás do motor do Estado gerador de crescimento”. Destacou que, na Inglaterra, as pessoas instituíram um sistema de patentes no final do século 18, início do século 19, “e passaram de forma descentralizada a fazer inovações, porque sabiam que podiam desenvolver uma ideia e aquela ideia ia ser protegida. Ou seja, houve um incentivo, no âmbito individual, das inovações”.

Rubens Penha Cysne enfatizou que é isso que gera um crescimento sustentado. “Tem que ter uma coisa de inclusão, garantia de justiça, de segurança, de saneamento, coisas básicas que um cidadão precisa para inovar, para ter ideias. É isso que precisa ser feito para subir a média do 3,3%”, reiterou.

 

Edição: Aécio Amado