Acordo provisório de paz traz novo ânimo aos sul-sudaneses

25/09/2012 - 19h06

Emerson Penha

Correspondente da EBC na África

 

Maputo (Moçambique) – Em um clube de Juba, capital do Sudão do Sul, o som alto voltou a entrar pela madrugada. “Os jovens podem, enfim, divertir-se e comemorar a paz”, disse Emmanuel Jal, músico sul-sudanês. Poucos meses atrás, durante a guerra com o Sudão, cenas como essas seriam impossíveis. Mal anoitecia, a população trancava-se em casa, com medo de ataques e da ação de milícias. Emmanuel Jal concorda que a paz foi muito esperada, e as comemorações são mesmo merecidas. No entanto, “ainda é preciso muito esforço pela reconciliação, e é a parte mais difícil”, ressalta.

O acordo de paz provisório estabelecido no mês passado provocou uma onda de alegria poucas vezes vista em um território onde foram travadas sucessivas guerras nos últimos 50 anos. A inauguração de uma estrada que levou anos para ser terminada também teve festa e danças. Agora, é possível sair de automóvel do Norte do país e cortar o território nacional, até atravessar a fronteira de Uganda ou do Quênia. Os quenianos concordaram em permitir o uso de seus portos no Oceano Índico, acordo de importância estratégica para o comércio exterior do Sudão do Sul, que não tem litoral.

A integração com o mundo, que agora se avista em um horizonte possível, abre portas para as mulheres sul-sudanesas no universo da moda. Consideradas as mais altas do mundo, é comum terem mais de 2 metros, e algumas têm feito sucesso em passarelas da Europa. Uma delas é a atual miss Sudão do Sul, Atong Demach, que tem 23 anos e 1 metro e 80 centímetros de altura. Ela já começou a disputar concursos internacionais e foi a africana mais bem colocada no último Miss Mundo. Orgulhosa, diz que “agora, o mundo inteiro pode saber que, no nosso país, as mulheres estão trabalhando para mudar suas comunidades”.

Mas o acordo definitivo de paz, que poderia dar ao Sudão do Sul a chance de continuar a sua inserção no cenário internacional, ainda não saiu. Representantes dos dois países reuniram-se nos últimos dias em Adis-Abeba, capital da Etiópia, para tentar um consenso. O encontro contou com as presenças do presidente sul-sudanês, Salva Kiir, e o seu antigo rival, o general Omar Al Bashir, que governa o Sudão.

O Sudão do Sul ficou independente do Sudão há pouco mais de um ano, depois de décadas de guerra, mas as regiões onde estão as imensas reservas de petróleo, principalmente Heglig e Abyei, continuaram disputadas pelos dois países. Desde agosto, a paz vem sendo mantida, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) pressiona para uma solução duradoura.

Ainda resta o problema dos quase meio milhão de refugiados que se amontoam em campos ao longo da fronteira. Durante mais de um ano de ataques de ambos os lados, elas deixaram suas casas por causa da violência das milícias. Perderam tudo e não têm mais para onde voltar. Muitos vagam à procura de um lugar para recomeçar a vida. Só em um campo, onde 120 mil pessoas vivem sem água potável ou comida, morrem nove crianças por dia em função da malária ou da desnutrição.

 

Edição: Aécio Amado