Economista do Ipea diz que indústria “patina” e impede maior crescimento do PIB

23/08/2012 - 19h59

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A indústria é o problema que impede maior crescimento do  Produto Interno Bruto (PIB) - soma das riquezas e bens produzidos no país - este ano, segundo disse à Agência Brasil o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Roberto Messenberg. Ele coordena o Grupo de Análise e Previsões da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do instituto. “A indústria está patinando”, afirmou.

Em função do baixo nível da atividade industrial, o Ipea vai rever a previsão para o PIB de 2012 em setembro próximo, segundo adiantou o economista. Hoje (23), o instituto divulgou o boletim Conjuntura em Foco de agosto, que traz dados relativos a PIB, inflação, emprego, entre outros temas.  

Segundo o economista, os números da produção industrial e da indústria de transformação são fracos. “Isso faz com que não venha a se cumprir o cenário esperado de recuperação gradual, embora com mais força, a partir do segundo semestre”.  Ele reforçou que esse já não é mais um cenário factível.  

Messenberg disse que  a ocorrência de taxas de crescimento elevadas no segundo semestre não permitirá reverter a tendência de redução do PIB. “As indicações são que a taxa de crescimento dessazonalizada nos dois primeiros trimestres ficou aquém das expectativas de todos”. Com isso, Messenberg  analisou que a média do ano “não será boa”. Segundo frisou, “estamos com um viés de baixa”. Não quis, porém, arriscar número.

O economista explicou que o crescimento dos dois primeiros trimestres dessazonalizados, isto é, retiradas as características específicas do período, definem a taxa média de crescimento da economia de um ano para o outro. Ou seja, os dados do primeiro e segundo trimestres estabelecem a base sobre a qual a taxa de crescimento dos trimestres seguintes incide, por isso a projeção pessimista para o PIB.

Mesmo com a atividade  industrial mais fraca,  que apresentou no primeiro semestre retração de 3,8%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ipea está percebendo uma acomodação no nível de emprego no Brasil este ano, “em um patamar elevado historicamente”. Em julho, o emprego no país aumentou 1,4%, considerado o melhor resultado da série de variação  interanual desde agosto de 2010.

“A tendência é acomodação, não crescimento, em função até de um dinamismo claudicante no setor industrial”, comentou Roberto Messenberg. Como o setor de serviços se mostra bastante aquecido, isso faz com que o nível de emprego em geral se mantenha elevado. Apesar da retração da produção na indústria, o setor não está demitindo, destacou.

Isso decorre, segundo explicou, do argumento econômico conhecido como salário eficiência, no qual o empregador investe na pessoa contratada para que ela se especialize e tenha um nível de produtividade bom. “Você vai ter uma certa dificuldade de demitir essa pessoa. Com isso, o nível de produção tende a cair, mas o nível de emprego não responde com a mesma intensidade no primeiro momento”.

Em relação à inflação, que acumulou alta de 5,2% nos últimos 12 meses até julho, medida pelo Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA), Messenberg indicou que o repique deverá se prolongar ainda um pouco, devido a fatores sazonais como a seca nos Estados Unidos e o aumento dos preços das commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado internacional). Observou, contudo, que fatores sazonais “tendem a se dissipar ao longo do tempo”.

Messenberg não vê que isso possa comprometer o cumprimento da meta de inflação prevista para 2012 pelo Banco Central, da ordem de 4,5%. “Pode não ficar no centro da meta, mas será atingida com um grau de folga muito maior em relação ao comprometimento do ano passado, quando a gente ficou quase praticamente batendo no teto [da meta]”.

Sobre a crise internacional, o coordenador do Grupo de Análise e Previsões argumentou que ela atingiu em cheio as expectativas de investimento dos empresários, principalmente na indústria de transformação, que produz mais bens tradebles  (negociáveis com o exterior). “É um complicômetro para a decisão de investimento. Ela afeta mais as decisões de investimento do que a decisão de produção mais imediata”.

O economista ponderou que um crescimento da aversão ao risco em termos internacionais acaba afetando também a entrada de moeda no Brasil. “Mas isso não é tão mau se tem um certo ajuste na taxa de câmbio, que faz com que a rentabilidade do setor industrial também cresça um pouco”. A crise, acrescentou, dificulta a captação no exterior, mas  isso não terá como efeito uma depressão dos investimentos.

Edição: Davi Oliveira